São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Filmes de Khouri e Fleischer dão o tom

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: O Convite ao Prazer
Produção: Brasil, 1979, 109 min.
Direção: Walter Hugo Khouri
Canal: SBT, 21h55

O Khouri de "O Convite ao Prazer" é um cineasta constante, cujas virtudes e defeitos repetem-se com monotonia. O Richard Fleischer de "No Mundo de 2020" (na Bandeirantes, às 2h) é o inesperado em pessoa. São os dois cineastas do dia.
O que existe de mais memorável no "Convite" é o fato de um dos personagens masculinos ser dentista. Dentistas são pouco frequentes no cinema e sua atividade traz implícita a idéia de sofrimento: há dor (física), sangue, eventualmente gritos.
São coisas que o cinema de Khouri habitualmente evita. Seus filmes são marcados por um excesso de polidez, de limpeza, de busca da elegância, que se junta ao fato de tratar de um tema sempre recorrente (tédio e sexualidade, para resumir). Aqui, dois homens casados encostam as respectivas mulheres e vão transar com belas garotas.
"Convite" ganharia se renunciasse à segurança do bom gosto, à assepsia da sensualidade, à postulação da "arte". Existe aí uma certeza. Mas é nas incertezas que se instala a poesia. Em Khouri, ela aparece mais nos lapsos (como o dentista) do que em outra coisa. A poesia surge quando o autor esquece que é autor.
Já Richard Fleischer é um cineasta da impureza, um artesão. Faz do melhor ao pior. E transforma o pior em melhor, às vezes, como em "2020": história em que uma grande corporação domina toda a indústria de alimentos, no século 21. Sob a aparência de limpeza, esconde-se um flagelo. E da luta contra ele Fleischer tira um filme de antecipação (mais do que ficção científica). Antecipa uma ética da sobrevivência humana, da busca de força em condições inóspitas. A poesia surge, no caso, dos desequilíbrios, da sujeira real oculta sob as aparências. E é de uma força inegável.(Inácio Araujo)

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