São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Filme reacende debate sobre fascismo italiano

PAUL HOLMES
DA "REUTER", EM ROMA

Enquanto os herdeiros políticos de Benito Mussolini preparam-se para ascender ao poder pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, a Itália mergulhou ontem numa discussão sem precedentes sobre seu passado fascista.
Cenas dramáticas foram transmitidas anteontem em documentário pela TV estatal RAI. Elas mostram a profanação do cadáver do "Duce" da Segunda Guerra e da execução por um pelotão de fuzilamento americano de três sabotadores fascistas e despertaram controvérsias sobre uma questão que foi tabu por quase 50 anos.
As imagens inéditas em preto-e-branco foram registradas por cinegrafistas militares americanos e mantidas até agora nos arquivos do Pentágono.
O "establishment" italiano sempre se recusou a discutir abertamente as afirmações neofascistas de que Mussolini e seus partidários foram tão louváveis quanto os partisans (membros da resistência antifascista) –uma posição que, segundo críticos do filme, teria sido solapada pelas imagens veiculadas na TV, de forte contéudo emotivo.
As imagens provocaram iradas acusações de revisionismo por parte do Partido Democrático da Esquerda (PDS, ex-comunista). Nas eleições da semana passada o PDS foi humilhado pela Aliança da Liberdade, que inclui neofascistas.
"Esse tipo de transmissão faz parte de uma campanha para tentar nivelar os lados fascista e antifascista", disse o historiador Claudio Pavone ao "L'Unità", do PDS.
Armando Cossutta, ex-partisan e líder do Partido da Refundação Comunista, de linha dura, pediu uma grande manifestação de "resistência antifascista" no aniversário da libertação italiana na Segunda Guerra, no dia 25 de abril.
O documentário, chamado "Combat Film", mostrou cenas da rendição dos nazistas alemães em Roma e mulheres aos prantos identificando os cadáveres de 335 homens fuzilados pelos nazistas em massacres de represália.
As imagens de maior controvérsia foram as de três jovens fascistas sendo executados por um pelotão de fuzilamento americano no sul da Itália, em abril de 1944.
Outro trecho mostrou os cadáveres de Mussolini, sua amante Claretta Petacci e outros altos funcionários fascistas deformados por golpes. Eles haviam sido executados por partisans, sendo chutados e depois pendurados de cabeça para baixo na Piazzale Loreto, a maior praça de Milão, em abril de 1945. Giano Accame, que ingressou na República de Salo aos 16 anos e hoje é um dos dirigentes da neofascista Aliança Nacional, disse no programa que os três fascistas executados eram "heróis".

Tradução de Clara Allain

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