São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Atendimento privado ainda gera controvérsias

DA REPORTAGEM LOCAL

A escassez de recursos do HC é um argumento cada vez forte para quem defende o atendimento especial de pacientes que pagam ou têm planos privados de saúde.
O HC tem na enfermagem 650 vagas não preenchidas por falta de interessados –enfermeiros começam com salário de US$ 520 por 10 horas diárias e médicos de US$ 700 por cinco horas.
No Incor, o salário incial é de US$ 870 para enfermeiros e US$ 1.540 para médicos (oito horas). A diferença vem da Fundação Zerbini, que com o dinheiro de particulares e repasses do Governo Federal (SUS) banca 55% dos US$ 80 milhões que o Incor gasta por ano.
Para o diretor-geral do Incor, Fulvio Pileggi, chefe do departamento de cardiopneumologia da Faculdade Medicina da USP, 20% de pacientes –que pagam ou usam planos de saúde– garantem a qualidade não só pelo aporte financeiro. "Eles são mais exigentes. Isso eleva o nível também para os outros 80%."
O diretor-científico do Incor e diretor da Faculdade de Medicina, Adib Jatene, nega que os particulares ocupem lugar de quem não pode pagar. E cita uma pesquisa comparando uma sala do Incor, que faz 10 cateterismos por dia, e outra similar no Hospital do Servidor Público do Rio, que faz dois.
Desde 87, as outras unidades do HC têm a Fundação Faculdade de Medicina. Mas os particulares são só 2% –98% vêm do SUS.
Para a diretora do pronto-socorro do Instituto Central, Sueli Morano, nunca vai se conseguir repetir o Incor. "Os tratamentos cardíacos são mais bem pagos."
O pronto-socorro –que desde fevereiro mostra em uma placa na porta o número de pacientes internados em macas nos corredores– é apenas a parte visível da penúria do HC. Fora dali, em uma UTI do Instituto Central, um paciente morreu sufocado no mês passado porque a única enfermeira disponível –que cuidava de cinco pessoas– não limpou a tempo o tubo que levava ar aos seus pulmões.

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