São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Meu futuro: uma composição infantil

MOACYR SCLIAR

"Eu sou a favor de trocar produtos de limpeza por pontos nas notas da escola.
Em primeiro lugar, isto vai ajudar a resolver o problema da limpeza nas escolas. Todo o mundo sabe que as nossas escolas não são muito limpas, porque a educação no Brasil está em crise e falta dinheiro para tudo, até para sabão e papel higiênico.
Mas o mais importante é que com esta medida eu poderei progredir muito na minha carreira que é, modéstia à parte, promissora. Acredito que com duas vassouras posso passar na prova de matemática (acho que são duas; não estou bem certa dos cálculos, fazer contas nunca foi o meu forte –é por isso que eu preciso das vassouras). Com três detergentes resolvo o meu problema de ciências –e nada mais justo, porque afinal o detergente é uma substância química e é na química que estou fraca. Com uma caixa de sabão em pó quebro o galho da história –estarei, por assim dizer, passando a história a limpo.
Mas não pretendo ficar só nisso. Afinal, no Brasil, quem tem só o primeiro, ou mesmo o segundo, grau, não está com nada. Acredito que este método possa se aplicar ao ensino superior. Aí não será o caso de produto de limpeza. Talvez a gente tenha de ir mais além. Por exemplo: muitas faculdades não têm equipamento de som. Ou videocassete. Ou mesmo um carro. Sobre isto terei de falar com meu pai, mas não será difícil convencê-lo a fazer este investimento numa carreira que, como eu disse, é promissora.
Quando eu receber o meu diploma, pretendo abrir uma empresa, contando justamente com esta experiência: vou vender produtos de limpeza para estudantes que querem passar de qualquer jeito. E já tenho até as marcas: o detergente será Maravilha Química, o sabão em pó se chamará A História passada a limpo.
Os meus colegas são contra este plano. Não é de admirar. Eles são sujos, sujos, sujos."

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