São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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Radar do Endeavour olha para o Brasil

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais de cem cientistas em 13 países, incluindo o Brasil, estão prestando atenção a cada volta que o ônibus espacial Endeavour, lançado anteontem, dá em torno da Terra. Suas equipes complementam experimentos feitos em órbita.
Os pontos altos desta, que é a mais "verde" das missões de ônibus espaciais, são equipamentos para medir a poluição do ar e um novo tipo de radar.
Com isso, a Nasa pretende coletar dados sobre mudanças ambientais provocadas pela ação humana.
No compartimento de carga da nave está o SRL (sigla em inglês para Laboratório Radar Espacial), cujo núcleo é um equipamento conhecido como SAR (ou Radar de Abertura Sintética).
Ele permite fazer imagens detalhadas da superfície da Terra, mesmo através das nuvens.
O SAR do ônibus espacial "engana" as ondas de rádio para obter maior precisão.
Assim como a lente de um binóculo capta luz, a antena do radar capta os "ecos" de sinais de rádio.
Quanto maior a lente, mais longe o binóculo enxerga. Quanto maior a antena, melhor enxerga o radar.
O próprio movimento do Endeavour faz o papel de uma grande antena –quando um eco chega à nave, ela já voou uma distância que permitiu coletar vários ecos.
O nome do equipamento vem do fato de essa "antena" ter sido criada –"sintetizada"– pelo movimento da nave.
Em uma missão do ônibus espacial em 1981, outro radar SAR, menos sofisticado, descobriu, debaixo da areia do deserto do Saara, leitos de rios secos.
Nesses rios foram feitas depois descobertas arqueológicas, como pontas de flechas.
O outro equipamento a bordo é um conjunto de detecção do gás monóxido de carbono, produzido pela queima de combustível (ou de florestas).
Ele se chama Maps (ou Medição da Poluição do Ar por Satélite). A concentração do monóxido de carbono indica a "saúde" do ar do planeta, pois esse gás participa de vários ciclos na atmosfera.
As equipes de terra no Brasil que vão ajudar a verificar as medições feitas no espaço estão a cargo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Uma equipe em Cuiabá (MT), chefiada por Volker Kirchhof, vai medir o monóxido de carbono desde a superfície até 6 km de altitude, com ajuda de um avião Bandeirante.
Esses dados servem para calibrar os resultados obtidos pelo instrumento Maps.
Duas outras equipes –uma em Manaus (AM), chefiada por Luciano Dutra, e outra em Petrolina (PE), liderada por João Vianei Soares– vão ajudar a verificar as imagens feitas pelo novo radar, diz Luiz Alberto Vieira Dias, responsável pela Coordenadoria de Observação da Terra do Inpe.
As equipes vão posicionar refletores de alumínio nesses locais, que aparecerão nas imagens de radar. Assim é possível ver o que a imagem no radar mostrou de fato, já que na superfície se sabe exatamente o que existe em torno dos refletores.

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