São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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Febre consumista infantil

HELCIO EMERICH

As agências depropaganda nãopoderiam passar aolargo da mina de ouro
Mencionamos recentemente nesta coluna o explosivo crescimento do mercado norte-americano de produtos para o público infanto-juvenil
No ano passado, movimentou negócios da ordem de US$ 7 bilhões em compras diretas (feitas pelas próprias crianças) e mais US$ 120 bilhões em aquisições feitas pelas famílias, sob influência dos filhos na faixa de idade entre seis e 14 anos (os dados são da empresa de pesquisas Children's Marketing Research Inc.).
A importância desse megasegmento de consumidores está provocando uma série de mudanças até mesmo no marketing daqueles anunciantes que não estavam diretamente voltados para o mercado dos pré-adolescentes: fabricantes de bebidas para esportistas, por exemplo, estão lançando novas fórmulas, criando embalagens especialmente desenhadas ou veiculando campanhas "tailor-made" para crianças.
Foi o caso da 10-K Sports Drinks, uma subsidiária do grupo japonês Suntory, segunda colocada no mercado desse tipo de produto, que parece querer diminuir sua grande distância da líder Gatorade ao concentrar 60% das suas verbas de comunicação nos compradores "preteens".
As grandes marcas de laticínios e de cereais prontos também se reposicionaram: a Kraft General Foods lançou uma versão em embalagens infantil do seu iogurte Light'n Lively, enquanto a Yoplait saiu com o Trix, uma variação do seu iogurte para adultos, identificada pela conhecida figura de um coelhinho emprestada de um cereal para crianças fabricada por outra divisão do grupo, a General Mills.
As agências de propaganda não poderiam passar ao largo da mina de ouro e quem saiu na frente foi a Saatchi & Saatchi, que montou uma unidade de serviços chamada Kid Connection especialmente para prestar serviços aos seus clientes no mercado infanto-juvenil.
A idéia tem a ver também com as oportunidades de mídia abertas pelos novos meios de comunicação dirigidos às crianças, como o canal de TV a cabo Nickelodeon e a revista Sports Ilustrated for Kids.
Ainda os cupons
Se algum anunciante brasileiro ainda duvida da eficiência dos cupons como instrumento de vendas, aqui estão mais alguns dados sobre o que está acontecendo com esse tipo de ação promocional nos Estados Unidos.
Nada menos do que 14% de todos os bens de consumo doméstico vendidos em 93 naquele país foram adquiridos através de cupons.
Para os consumidores americanos, aliás, parece que algumas categorias de produtos não podem mais viver sem a cuponagem: 43% das toalhas descartáveis de papel, 35% dos cereais industrializados, 29% dos desodorantes e 25% do café vendidos no ano passado tiveram o auxílio de cupons.
A mídia impressa continua sendo o segundo maior veículo para a veiculação das ofertas, captando 8,2% das verbas (o principal meio é a própria embalagem do produto). A mala-direta fica com apenas 3,8% dos investimentos.
No ano passado, os anunciantes norte-americanos inundaram o país com a emissão de 310 bilhões de cupons. Se empilhados, formariam uma montanha de papel várias vezes maior do que o Everest. 65% das empresas que usaram a cuponagem em 93 vão manter ou ampliar suas verbas nesse tipo de promoção em 94.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna "Criação & Consumo"

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