São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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MUNDO LIVRE S.A.

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles se definem como uma banda de MPB. Amam Paulinho da Viola, Malcom McLaren (inventor dos Sex Pistols), mangue e caranguejos.
A mistureba se chama Mundo Livre S.A., segunda banda pernambucana do "mangue beat" que aporta no eixo Rio-São Paulo (a primeira foi Chico Science).
Os garotos estão em São Paulo para lançar seu primeiro disco, "Samba Esquema Noise", que sai em julho pelo selo Banguela.
O Folhateen conversou com Fred (letrista), Otto (percussionista), Fábio (baixista), Tony (baterista) e Bactéria (tecladista), durante intervalo de uma sessão de gravação no estúdio Be Bop, em São Paulo.
*
Folha - O que é o "mangue beat?"
Fred - O "Mangue Beat" surgiu em Recife. Algumas pessoas que gostavam das mesmas coisas resolveram se unir e formar uma cooperativa. A gente queria que as coisas acontecessem na cidade mas isso era muito difícil. Por isso resolvemos nos unir e fazer as coisas juntos. Tocávamos com o Chico Science e dividíamos o aluguel do som e do equipamento, tínhamos uns amigos que trabalhavam com informática que faziam os cartazes. Assim tudo ficou mais fácil.
Folha - Como são as coisas em Recife? Vocês tinham espaço para tocar, acesso a informações?
Fred - As coisas no nordeste são mais difíceis. Os shows nunca vão para lá e a gente não tem espaço. Eu ouvia FM, que só toca coisas do Sul. E pensava: "essas coisas são tão ruins, eu sou capaz de fazer coisas muito melhores". É muito chato não ter espaço. Lá você tem que batalhar muito. Tocávamos em puteiros do cais do porto e em restaurantes. Não tinha nenhuma casa noturna que abrisse para o rock.
Folha - E o que vocês acham das comparações entre vocês e o Chico Science?
Fred - Acho que é normal, mas não tem nada a ver. As bandas do "Mangue Beat" são muito diferentes. O som não é igual. Adoro o Chico, acho que ele é um gênio. Mas não foi ele que criou o "Mangue Beat". Nós já fizemos músicas juntos, festas, mas hoje estamos mais distantes.
Folha - Vocês cantam em português, e usam elementos da música brasileira. vocês acham isso importante?
Otto - Claro que é importante. Recife tem muito ritmo, seria uma bobagem não usar esses elementos.
Fred - Nós não fazemos rock. Acho que somos uma banda de MPB. Para mim, Titãs e Paralamas fazem MPB jovem. Se a gente canta em português, é MPB.
Folha - O Fred toca cavaquinho. Vocês tem influências do samba?
Fred - Eu amo Jackson do Pandeiro e Paulinho da Viola. Eles são o máximo. Mas o meu ídolo é o Jorge Ben, ele é maravilhoso.
Folha - E o que vocês acham desse "revival" de Jorge Ben?
Fred - Achamos maravilhoso. É legal que os adolescentes de hoje tenham acesso a isso. Quando eu ouvi Jorge Ben pela primeira vez era moleque, tinha uns 13 anos, e aquilo mudou a minha vida.
Folha - Quais são as outras influências de vocês?
Fred - O nosso guru é o Malcom Mclaren, que inventou a banda Sex Pistols. Ele disse exatamente o que a gente pensa, a história de ganhar grana se divertindo. Essa coisa de ser meio picareta mas fazer coisas boas. Adoramos isso.
Folha - Vocês estão felizes com a gravação do disco?
Fred - Estamos muito felizes. Acho incrível que isso tenha acontecido, nós nem tínhamos instrumentos e hoje estamos aqui, tocando com instrumentos de primeira linha. Teve uma época em que a gente não tinha dinheiro nem para a passagem de ônibus.
Tony - O legal é que a gente está conhecendo os nosso ídolos. Eu era fã do Charles Gavin (baterista dos Titãs e um dos donos do Banguela) e agora a gente ficou amigo. Eu até toquei na bateria dele.

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