São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estilo mescla virtuosismo e sensualidade

ANA FRANCISCA PONZIO
DA ENVIADA ESPECIAL

Stephen Petronio se apresentou em São Paulo em 1991, quando dividiu o espetáculo com seu namorado, Michael Clark.
Convivendo com a dubiedade, Petronio compõe coreografias com extremo virtuosismo –qualidade que se impõe sobre a sensualidade dos movimentos e temas.
Ontem o Ballet da Ópera de Lyon, uma das principais instituições artísticas da Europa, encerrou temporada de um programa que incluiu a última criação de Petronio: "ExtraVeinous", com música de David Linton.
"Trabalhar na Europa, hoje, é um paraíso para quem enfrenta as instabilidades financeiras da América", comenta. Desde 1984 dirigindo seu próprio grupo, Stephen Petronio Company, ele já trabalhou para o Ballet de Frankfurt e a Ópera de Berlim. Em 1990 realizou a coreografia de "O Trovador", de Verdi, para o Teatro da Ópera de Tulsa (Arizona, EUA).
Na próxima temporada no Brasil, Petronio mostrará coreografias recentes, feitas para seu grupo. "Half Wrong Plus Laytext" estreou em maio de 1992, no teatro The Kitchen, Nova York.
Inspirada na "Sagração da Primavera", de Stravinski, e no erotismo da literatura de Henry Miller, William Burroughs e Kathy Acker, "Half Wrong..." associa texto e dança. Na abertura, durante um solo feminino, há frases e palavras se movimentando no ar, em letras vermelhas e fluorescentes, transmitidas por um computador escondido no fundo do palco.
Em "Half Wrong..." Petronio cria relações entre a época atual e o início do século. Ele acha que a "Sagração..." de Stravinski representa o estado de inocência do mundo, quando nascia o modernismo. "Ao mesmo tempo, vejo algo de pornográfico no tema –o sacrifício de uma donzela em função da fertilidade da terra".
Com a palavra "laytext" do título, Petronio faz várias alusões: além dos textos utilizados, pode sugerir "látex, borracha, preservativos..."
Em vez da música orquestrada, Petronio utiliza uma versão da "Sagração" para dois pianos –interpretada ao vivo nas apresentações de estréia, por músicos que ocupavam o palco junto com os bailarinos.
A coreografia que encerrará os espetáculos no Brasil é "The King is Dead", que estreou ano passado. Além do "Bolero" de Ravel, é dançada ao som de um ícone pop: a voz de Elvis Presley, cantando "Love Me Tender". Tocada no prelúdio, a canção conduz um solo, executado por próprio Petronio.
"She Says", com músicas que Yoko Ono compôs nos anos 70, dá toques bem humorados ao espetáculo. "A maioria dos coreógrafos gosta de tranquilizar o público ilustrando a música. Eu procuro fazer o contrário, brincando com as expectativas", afirma Petronio que, no momento, está envolvido em mais um projeto: escrever um livro, que será uma espécie de autobiografia. (AFP)

Texto Anterior: IDENTIDADE
Próximo Texto: Amnésia; Unha e cutícula; Sapatinho; Surubim
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.