São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Guerrilha fecha o cerco à capital de Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os rebeldes da Força Patriótica de Ruanda (FPR) estão a apenas 2,5 km da capital, Kigali, disse ontem um militar francês.
O país do centro-leste africano teve ontem os piores combates desde sábado.
A guerra civil, reiniciada na quinta-feira passada por causa do assassinato do presidente Juvenal Habyarimana em um atentado, já matou mais de 8.000 pessoas de acordo com a Cruz Vermelha.
Cerca de 300 cidadãos belgas –a principal comunidade estrangeira no país– foram levados para Nairóbi, capital do vizinho Quênia (leste). Segundo a ONU, 2.000 ruandeses já fugiram para o Zaire (a oeste).
O Ministério das Relações Exteriores francês disse que a maioria de seus cidadãos deixou Ruanda e que espera o melhor momento para retirar suas tropas.
Um grupo de 120 alemães, 20 suíços e vários belgas chegaram ontem a Bonn (Alemanha). No sábado, eles haviam sido levados para Bujumbura, capital do Burundi.
Os combates opõem as etnias hutu, que representam 90% da população, e tutsi, apenas 9%. Há aproximadamente 7,5 milhões de habitantes no país.
A guerra, iniciada em 1990, estava sob trégua desde agosto do ano passado. As forças rebeldes são 20 mil, formadas em sua maioria por tutsis.
Eles combatem os cerca de 2.000 soldados da guarda presidencial, leais ao presidente assassinado Habyarimana (hutu).
A guarda culpa os rebeldes tutsis pelo atentado ao avião presidencial –quando também morreu o presidente do vizinho Burundi, Cyprien Ntaryamira.
Uma bomba atingiu o hospital privado Rei Faissal, em Kigali, matando 27 pessoas e deixando mais de cem feridas, segundo um comunicado da ONU divulgado em Nairóbi. Não se sabe quem são os autores do ataque.
Três soldados hutus são acusados de matar a golpes de baioneta dois pacientes civis –um dos quais feridos– recém-chegados ao hospital central de Kigali.
Um comboio de ajuda humanitária francês foi atacado a tiros por um grupo que não pôde ser identificado. Houve tiroteio, mas ninguém saiu ferido.
A situação em Kigali é caótica. Gangues de hutus armados "caçam" tutsis e os matam indiscriminadamente.
No hospital central da cidade, corpos são empilhados, alguns ainda semivivos, em meio a cadáveres mutilados.
Soldados franceses conseguiram retirar mais de cem crianças ruandesas órfãs que estavam em uma instituição religiosa.
Seis civis belgas morreram. Na semana passada, dez soldados belgas das forças da ONU foram assasinados quando tentavam proteger a primeira-ministra Agathe Uwilingiyiamana, também morta.

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