São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Receita multa bicheiros em US$ 10 milhões

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A Receita Federal já multou os bicheiros do Rio de Janeiro em US$ 10,1 milhões (de CR$ 10,4 bilhões) por sonegação de Imposto de Renda.
Com base nas autuações, a Procuradoria Geral da República denunciou sete deles por crime de sonegação à Justiça Federal.
Foram denunciados Castor de Andrade, Aílton Guimarães (Capitão Guimarães), Haroldo Nunes (Sans Pena), José Scafura (Piruinha), Raul Mello (Raul Capitão) e Antônio Petrus (Turcão).
A juíza da 13ª Vara Federal, Marilena Soares Franco, abriu processo contra todos os denunciados. Para cada ano de sonegação podem ser condenados até dois anos de prisão.
Também foram denunciados por crime de sonegação a mulher e dois filhos do bicheiro Antônio Petrus Kalil.
A devassa fiscal começou há dois anos, quando a Receita conseguiu quebrar o sigilo bancário dos contraventores. Nas últimas semanas, ela começou a investigar as empresas registradas em nome dos bicheiros.
Estão sendo investigadas a contabilidade dos motéis Beverly Hills, de Aniz Abrahão David (Anísio), e Mirante (de José Caruzo Scafura) à agência de automóveis Castor Veículos (de Castor de Andrade), entre outras.
A fiscalização nas declarações pessoais dos bicheiros ainda não terminou. Os auditores só analisaram as contas referentes ao período de 1987 a 90.
Mesmo em relação a este período, não estão concluídas as investigações de três bicheiros: Carlos Teixeira Martins (Carlinhos Maracanã), José Carlos Monassa e Paulo Roberto de Andrade Silva, filho de Castor de Andrade.
Segundo o coordenador de Fiscalização da Receita Federal, Luiz Henrique Arruda, a sonegação só foi descoberta com a quebra do sigilo bancário.
O volume de dinheiro que eles movimentavam em suas contas bancárias pessoais era incompatível com suas declarações de Imposto de Renda.
Castor Gonçalves de Andrade Silva (o Castor, que controla os pontos de bicho de parte da zona oeste do Rio) declarou uma renda de apenas US$ 388,5 mil em 1990 e só pagou US$ 10,6 mil de Imposto de Renda.
Depois de quebrado seu sigilo bancário, ele já foi instado a pagar CR$ 851,7 milhões de imposto. Suas declarações, até então, pareciam "tecnicamente corretas", segundo a Receita Federal.
Na de 90, Castor declarava um grande número de bens, todos adquiridos há mais de cinco anos, prazo em que são prescritos os crimes fiscais. Os demais bicheiros estão na mesma situação.
Entre os bens de Castor, estão seis barcos, quadros de pintores famosos –como o"Primavera", de Pancetti, e "Mexicanas", de Diego Rivera)– jóias e dezenas de imóveis.
Castor justificava a maior parte de sua renda com aluguéis, como faziam os demais contraventores.
Antes da quebra do sigilo bancário, todos eles caíam sistematicamente na malha fina do Imposto de Renda e eram chamados apenas a cobrir pequenas diferenças por erro de cáculo.
Em 1991, Waldemir Garcia (o Miro), que já foi multado em CR$ 2,34 bilhões depois que seu sigilo bancário foi quebrado, chegou a receber devolução de Imposto de Renda, depois de cair na malha fina.

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