São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Sobrinho persegue tradição de Francis Coppola

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Numa rua sossegada bem no coração de Los Angeles, Christopher Coppola, 30, elegantemente metido num terno completo conversa com seu irmão.
Não é exatamente uma discussão em família: o irmão de Christopher é o ator Nicolas Cage, e a conversa é um debate apaixonado sobre marcações de cena.
Christopher, sobrinho de Francis Ford Coppola (veja outros membros da família Coppola em quadro ao lado), está dirigindo seu primeiro projeto de substância, "Engano Mortal" ("Deadfall"). Como ele conta nesta entrevista à Folha, o projeto foi mais atrapalhado que ajudado pelo sobrenome ilustre.
*
Folha - Ser um cineasta com o nome Coppola é mais fácil ou mais difícil?
Coppola - No início foi muito difícil. Acabei de fazer 30 anos, e durante uns bons cinco anos eu senti uma enorme pressão dentro da minha família para me definir, ser bem sucedido nos meus próprios termos. Era algo como "você é um Coppola, o que é que você vai fazer da sua vida?"
Se você escolhe cinema, então, as coisas se complicam um pouco mais... Talvez uma parte disso estivesse apenas na minha cabeça. Talvez eu achasse que, com um nome desses, com a família que eu tenho, eu teria que ser perfeito. Foi há pouco tempo que eu disse a mim mesmo "isso é besteira".
Folha - O fato de ser um Coppola ajuda para a indústria cinematográfica?
Coppola - Eu sou sobrinho, não sou filho. Nicolas e eu crescemos numa espécie de trajetória paralela à de Francis, com um certo distanciamento de Hollywood.
Tivemos que lutar como qualquer iniciante para abrir portas, e uma vez que as portas se abriam, o nome Coppola passava a ser até um problema. As pessoas te olham diferente, te comparam com Francis. Um nome famoso não abre tantas portas quanto se imagina.
Folha - Parece que você tem uma certa amargura do nome Coppola...
Coppola - Não, nada disso. Adoro a minha família, adoro as macarronadas na casa de meu tio, quando todo mundo está junto. A família é muito unida e sempre nos apoiamos uns aos outros. Escrevi "Engano Mortal" na fazenda do meu tio. Ele sempre me apoiou.
Folha - Que tipo de filme te interessa fazer?
Coppola - Certamente não o tipo de filme que Hollywood está fazendo hoje. Aquilo me parece coisa de parque de diversão, não de cinema. Quero fazer filmes pequenos, com pequenos orçamentos, mas que dêem total controle criativo. Filmes com estilo.
Folha - O que você aprendeu com seu tio?
Coppola - Que o olho, a visão do diretor é fundamental. Que o diretor tem que criar um bom ambiente no set. E que ele deve sempre trabalhar de terno e gravata. Essa é a principal lição da "escola Coppola de cinema". É um sinal de que você leva cinema a sério. Não é a toa que os diretores europeus sempre trabalham de terno.
Folha - Qual a origem do projeto "Engano Mortal"?
Christopher Coppola - Alguns anos atrás eu trabalhava no Farmers Market de Los Angeles (o mercado de frutas e legumes da cidade) para pagar meus estudos.
Sempre tive a impressão de alguma coisa a mais se passava ali. Baseado nessas observações eu escrevi o roteiro de um curta, "The Market", que depois se transformou em "Engano Mortal".

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