São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Carlos Lyra lança seus songbooks no Rio

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

A semana no Rio é de Carlos Lyra. Hoje à noite ele lança no Jazzmania, casa noturna da zona sul carioca, o CD e o álbum de partituras que compõem seus songbooks, coletâneas de suas principais canções.
Naturalmente, com canjas prometidas por Tom Jobim, Caetano, João Bosco, Nana Caymmi, Joyce e outros que cantam suas músicas no disco.
E amanhã, no mesmo local, estréia o show de lançamento de outro CD, "Bossa Lyra", gravado por ele, ano passado, no Japão.
O livro de partituras é o 23º volume da série de songbooks que Almir Chediak vem produzindo desde 1989. Mas bem poderia ter sido o primeiro.
Como o próprio Carlos Lyra lembra, um dia Chediak procurou-o para pedir-lhe permissão para incluir "Minha Namorada" num dos volumes dedicados à bossa-nova.
A reação veio no seu jeito extrovertido:
"O quê? Você está pensando em harmonizar 'Minha Namorada'? Pois, se fizer isso eu te processo!"
Claro que a ameaça não era para valer. O que Lyra queria –e sugeriu ali mesmo a Chediak– é que cada compositor cuidasse da harmonização de suas próprias músicas, garantindo assim total fidelidade aos songbooks: "Afinal, ninguém melhor do que o compositor para saber que acordes usar em suas canções."
Carlos Lyra está presente nos cinco volumes da bossa-nova, mas seu próprio álbum de partituras só sairia depois deles e dos de Caetano Veloso, Noel Rosa, Cazuza, Rita Lee, Gilberto Gil e Vinicius de Moraes.
Os dois, Lyra e Chediak, vêm trabalhando há mais de um ano na revisão, acorde por acorde, nota por nota, das 55 músicas. Por vezes, com resultados musicais conflitantes mas enriquecedores.
"Um dia, Almir me chamou a atenção para um acorde que não estava batendo em 'Feio Não É Bonito' ", conta Lyra. "Era verdade, havia um choque ali. Mas eu gostava tanto do acorde, que, para não mexer nele, acabei mudando a melodia."
O processo do disco correu paralelamente com a produção, escolha dos intérpretes e do repertório por conta de Chediak.
Lyra conta que sua intervenção limitou-se a dois momentos: um, o de aproveitar no songbook a faixa em que ele e Lisa Ono cantam "Maria do Maranhão" no CD japonês, o outro, um telefonema que deu para Caetano em 11 de maio passado.
"Eu disse: 'Olha, Caetano, eu nunca te pedi nada, mas agora te peço um presente de aniversário: que você grave 'Quando Chegares' no meu songbook. Ele topou na hora."
Lyra explica que Caetano gostava muito da canção, sua primeira, escrita em 1954, quando ainda nem sonhava em ser parceiro de Vinicius.
"Sendo Caetano o tremendo letrista que é, me orgulhava saber que ele sempre elogiou minhas letras. Isto é, as poucas que fiz, como a de 'Quando Chegares' ".
Voltando às partituras, Lyra diz que sua vontade é que o álbum tivesse um número redondo: 60.
Mas não houve tempo para incluir nele três canções inéditas (uma delas "Ypa-nema", composta no dia quatro deste mês), nem jeito de publicar suas duas parcerias com Geraldo Vandré, que pede US$ 2.000 pela autorização de cada uma: "O pior é que uma delas, 'Aruanda', eu fiz quase sozinho, música e letra."

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