São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Sharon Stone finge que é fria e deixa Gere entediado

'Intersection' faz da atriz uma pecadora arrependida

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Filme: Intersection – Uma Escolha, uma Renúncia
Direção: Mark Rydell
Produção: Estados Unidos, 1994
Elenco: Richard Gere, Sharon Stone

O tédio dos ricos na era Carter, ao final dos anos 70, parece vir de uma sucessão interminável de 'coitus interruptus'. Em "Intersection - Uma Escolha, uma Renúncia", o sexo burocrático e pudico praticado por uma irreconhecível Sharon Stone, cansa Vincent, o marido, interpretado por um Richard Gere maneirista e desmotivado.
Uma excessiva carga moralista asfixia os ambientes do filme. O ar que o marido cansado respira está viciado de purezas: das montanhas de Vancouver, na fronteira do Canadá com os EUA, da beleza plástica dos seus projetos de arquiteto e preguiçosos devaneios. A profusão de clichês é suficiente para dispensar os diálogos. Nesse cenário 'clean' o moralismo contagia sob o manto do adultério.
Como num filme mudo, com exageros à beira do grotesco, a amante do rico arquiteto deve ser mais feia do que a frígida e ambiciosa esposa traída. Ainda como num filme mudo, em todas as situações em que a amante aparece fica a sugestão de que seria muito melhor se ela não abrisse a boca.
A fatalidade vai se consumando lentamente, desde as primeiras cenas quando Vincent bate o carro a 160 km por hora e passa todo o resto do filme em retrospectiva e crises de arrependimento.
Qual mecanismo psicológico terá induzido Sharon Stone a aceitar o papel de senhora recatada depois de notabilizar-se em papeis à beira do pornô explícito? Na era da evangelização eletrônica Sharon Stone sugere uma pecadora em redenção. Difícil imaginar qual parcela do seu público irá aceitar tanto recato e arrependimento. (Leon Cakoff)

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