São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Tradutor de 'Diário de Zlata' tem 16 anos

GABRIEL BASTOS JUNIOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Um garoto de 16 anos, Antônio de Macedo Soares, e sua mãe, Heloisa Jahn, 46, foram os responsáveis pela tradução para o português de um livro escrito por uma menina bósnia, Zlata Filipovic.
O "Diário de Zlata" (título do livro) deve ser lançado pela editora Companhia das Letras no próximo dia 20. A edição original estava em francês.
O livro mostra os horrores de viver em Sarajevo, cidade onde Zlata –13 anos e origem muçulmana– morava, durante a guerra na Bósnia (leia texto ao lado).
Antônio morou e estudou na França durante dois anos. Ele traduziu o começo e o fim do livro.
Segundo ele, no início a tradução toda seria de sua mãe. Ela que teve a idéia de pedir ajuda ao filho. "Como adolescente, a linguagem dele estaria mais próxima da do diário", diz.
Antônio passou um mês trabalhando na tradução do diário, seu primeiro trabalho profissional neste campo. "Foi bom, deu para ganhar um dinheirinho", conta.
A experiência exigiu um pouco de disciplina. "Tinha que trabalhar pelo menos três horas por dia", conta, "mas acho que gostaria de fazer de novo".
Antônio não acha que traduziria qualquer texto. "Não sei se teria paciência para traduzir um livro chato." Ele conta que gostou do "Diário de Zlata".
Embora trate o tempo todo da guerra, Antônio garante que o "Diário de Zlata" não é um livro deprimente. "Ele tem humor, o texto não é pesadão", diz.
Segundo o tradutor, sua linguagem é leve, simples e direta. "Acho que acabou sendo mais fácil para eu traduzir porque é a linguagem que eu uso", comenta.
Mas um diário escrito em meio a bombardeios não pode mesmo ser um livro feliz. "Ela vai ficando mais triste durante a guerra. Pensa até em se matar."
O livro vem sendo comparado ao "Diário de Anne Frank", da menina judia que descreveu a Segunda Guerra Mundial. Como ele, "Diário de Zlata" se tornou um best seller.
Zlata é filha única e atualmente mora com seus pais na França, esperando a guerra terminar. Várias famílias francesas receberam exilados bósnios em suas casas.
A família de Zlata abandonou o apartamento no centro de Sarajevo e a casa de campo nas montanhas, destruída por bombardeios.
Mais do que a guerra, o livro trata do dia-a-dia das pessoas em uma cidade sitiada. "Mostra como a guerra interfere e muda a vida das pessoas", diz Antônio.
Ele conta também que não teve problemas com a tradução. "Não conhecia uma ou outra palavra isolada, mas isso é normal."
Antônio não tem nenhuma preocupação especial para manter seu francês em dia. Não estuda, não fala em casa e só de vez em quando pega uns livros para ler.
Por precaução, sua mãe, tradutora profissional desde 1980, deu uma revisada final em seu trabalho. "Era ela quem digitava as coisas no computador", conta.
Heloísa acha, como boa mãe coruja, que Antônio teve muita sensibilidade na tradução. "Ele deu o tom do livro. A parte que traduzi, me baseei no estilo dele."
"Diário de Zlata" é o primeiro livro do selo juvenil da Companhia das Letras –o Cia. das Letras. O preço ainda não foi definido.
Este ano saem ainda mais dois livros: "Guia dos Curiosos", de Marcelo Duarte, e uma releitura da história de Frankenstein, ainda sem título, de Ruy Castro.

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