São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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O enigma de Sarney

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Fosse feita uma lista dos dez políticos de amplitude nacional mais astutos, o senador José Sarney não estaria no primeiro lugar. Mas, certamente, teria boa colocação. Por seus movimentos de bastidores, ele é o melhor exemplo de que, nesta sucessão, as alianças têm até uma dose de humor.
Sarney decidiu batalhar a indicação a presidente do PMDB, disputando com Orestes Quércia. De público, jurou que apoiaria o vencedor. Mas, pelos bastidores, acena para Fernando Henrique Cardoso.
Sarney tem duas prioridades. Primeira: voltar a sentar no terceiro andar do Palácio do Planalto. Segunda: fazer da filha governadora do Maranhão. Roseana é candidata pelo PFL, virtual aliada de Fernando Henrique.
Ele joga iscas em várias águas. Inclusive para o PT. Para esta coluna, por várias vezes, admitiu votar em Lula. Considerando seus 12% de preferência popular, não é pouca coisa. Motivo da piscadela: uma eventual aliança do PSDB com o PPR. O PPR lançou seu arquival Epitácio Cafeteira para o governo do Maranhão, disputando com sua filha.
Só para ter uma idéia da briga, Cafeteira se orgulha de ter "expulso" Sarney do Maranhão, obrigando-o a se candidatar pelo Amapá. O presidente considera-o, em conversas reservadas, falso e mau-caráter.
Ele afirma que, quando era presidente e Cafeteira governador do Maranhão, presenciou cenas de total servilismo. Cafeteira chegava a se curvar para retocar sua maquiagem em programas de televisão. Comparava-o até mesmo a Jesus Cristo.
Daí se vê que a eleição a presidente corre o risco de ser decidida pelas questiúnculas provincianas.
PS – Recebi ontem fax do diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Ronaldo Fiore. Ele fez uma denúncia sobre o que classifica de "corrupção ética" nos hospitais de São Paulo, mas que aconteceria em todo o país. Afirmou que, num conluio com chefias, os médicos não precisariam cumprir o horário de trabalho. É um óbvio prejuízo à população. Ele acusa seu sindicato, o Conselho Regional de Medicina e o governo estadual de acobertarem sua denúncia. "Por que não discutir abertamente com a sociedade, sem hiprocria?", pergunta Fiore.

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