São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994 |
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'Comi porque tinha fome'
FÁBIO GUIBU
Ela passou mal e, segundo a nutricionista da Universidade Federal do Estado, Nonete Guerra, "correu risco de vida". "Se o órgão foi amputado, tinha alguma lesão. Além disso, já estava em decomposição e causaria intoxicação", disse Guerra. A catadora de lixo concedeu entrevista ontem à Folha, em frente ao barraco onde mora, no lixão de Olinda. Leia a seguir os principais trechos da entrevista: Folha - A senhora confirma que comeu um seio encontrado no depósito de lixo? Leonildes Cruz Soares - Comi sim. Eu e meu filho, Adilson (Ramos Soares, 39). Assei no óleo e comi com cuscuz (mistura de farinha de milho com água). Foi a primeira vez que fiz isso. Folha - Por que a senhora fez isso? Soares - No começo eu não sabia o que era. Achava que era uma gordura qualquer. Folha - Então a senhora comeu sem saber o que era? Soares - Quando comecei a fritar a carne apareceu uma gordura amarela. Aí as pessoas me disseram o que era, mas eu não tinha o que comer e comi isso mesmo. Com fome entra tudo. Passei um bocado de dia sem saber o que era almoço. Folha - A senhora não passou mal? Soares - Passei mal. Vomitei muito. Depois tomei remédio, uns negócios aí, e melhorei. Meu filho também passou mal. Folha - O que a senhora costuma comer em casa? Soares - Costumo comer o que a gente cata no lixo. É peixe, pão, galinha, essas coisas... (Fábio Guibu) Texto Anterior: Indigentes comem carne humana em Olinda Próximo Texto: Entidades criticam descaso Índice |
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