São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Dos gols do Brossa ao bolão de Neve

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Erramos: 17/04/94
A palavra trás foi publicada incorretamente. O correto é traz no sentido de trazer.


Dos gols do Brossa ao bolão de Neve
Meus amigos, meus inimigos, rolando a bola, rolando a vida, rolando pelas Ramblas. E vendo os golaços do poeta Joan Brossa.
Brossa que em ato premonitório de Waly Salomão e Antônio Cícero aportou por aqui no ano passado. Hoje está em todas as ruas de Barcelona –saudado como o grande poeta-interventor catalão.
Brossa que está batendo um bolão. Como não poderia deixar de ser nesta enigmática terra de bom-gotismo, ele une poesia, política e... a bola.
Em l988, ele já havia criado a obra emblemática, alegoria total, "O País", com uma bola de futebol e um pente de bailarina espanhola por trás.
Agora, na grande exposição que ocupa o museu da Rainha Sofia, ele volta a fazer outra grande alegoria, uma pirâmide com bolas de futebol e globos terrestres. Então rola, rola a bola, rola a vida.
E alô, alô Costanza Pascolatto, sabe quem vai desenhar o uniforme da Itália para a próxima Copa? O Giorgio. Giorgio Armani. Dizem que ele deu sorte em 82, na Copa da Espanha.
O futebol era péssimo (embora campeão). Mas a farda era linda. Não é o máximo da elegância? Ter um técnico como o Arrigo Sacchi, ter um jogador como o Baggio e ter a roupa grifada por Armani!
E um taxista aqui me diz que acha o Bebeto melhor do que o Romário. Então eu me lembro do conselho do "fios maravilhas" Luís de Freitas de que em futebol é necessário ouvir as bases. E ouço. E pergunto: O que você acha de um ataque com Bebeto e Romário? Resposta: –Um luxo!
Uau! É isto mesmo. Um luxo só. Então eu me lembro do luxo só que foi São Paulo ter Naná Vasconcellos e João Gilberto na mesma semana (e eu não pude ver, me sentindo um lixo só). E lembrar do João me lembra dos 80 anos de Dorival Caymmi. Assim como a belíssima catedral gótica daqui, a Santa Maria do Mar (que nome!) me lembrou Caymmi. Um gol para Caymmi, gente!
E alô, alô palmeirense Eduardo Fischer, o Nando, o excelente ala esquerdo do Deportivo La Coruña, marcou um gol contra o Atlético de Madrid e saiu comemorando sabe como? Sabe como?
Com o dedo n.º 1 para cima. Ele está querendo aprender tudo com o Bebeto. Ele está querendo marcar gols como o Bebeto. E já está até comemorando como o Bebeto. Tecnologia do ponta brasileiro.
E as transmissões de jogos de futebol pela TV espanhola são excelentes. Muita câmera, muita luz e muita ação. E muita informação. E análise tática com grafismos, como nas transmissões da NBA.
Também a imprensa escrita sobre futebol, em Barcelona, deu o seu salto de qualidade. O diário "El Mundo Deportivo" é moderno graficamente, muito ágil e está forrado de boas idéias editoriais.
O bom futebol, o futebol espetáculo, nivela tudo por cima. Até a imprensa tem que melhorar a sua qualidade. E é isto que a gente quer. Pra frente com a bola, moçada. E vamos correr para o abraço.
E a torcida do Barça canta "Aquarela do Brasil" em homenagem ao Romário. E o que eu gosto na Espanha é das edições de música.
As edições de música por aqui continuam a bater um bolão. Um bolão de neve. Como o novo CD do Bola de Nieve, que trás o registro de seus programas de rádio em Havana, no começo dos 50.
Também me mata Barcelona. Vale!

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