São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Gismonti fecha Heineken em grande estilo

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O concerto de Egberto Gismonti com a Orquestra Jazz Sinfônica e o guitarrista inglês John McLaughlin encerrou em grande estilo a edição paulista do Heineken Concerts. A platéia presente ao Palace, anteontem, saiu da sala pedindo mais –mesmo após a volta de Gismonti e McLaughlin ao palco, para uma versão a piano e guitarra da clássica "Loro".
Tudo soou muito bem-planejado, dos convidados escolhidos por Gismonti à variedade de formações instrumentais exibidas durante as duas horas e meia de concerto. Treze peças do compositor carioca foram traduzidas em solos, duos, quartetos e quintetos combinados à orquestra, ressaltando a riqueza de sua escritura musical.
A temperatura foi elevada gradativamente. O quinteto de saxofones da Jazz Sinfônica abriu a noite em tom de música de câmera, com versões a capela (sem acompanhamento) de "Palhaço" e "Sonhos de Recife".
Regida pelos maestros Nelson Ayres (diretor artístico da orquestra) e Gil Jardim, a Jazz Sinfônica se saiu muito bem na difícil missão de reproduzir a multiplicidade sonora de Gismonti –da bem-humorada paráfrase à brasileira de Igor Stravinski (1882-1971), em "Strawa no Sertão", ao caldeirão de ritmos folclóricos do país derramado em composições como "Lundu", "Frevo", "Forró" e "Música de Sobrevivência", esta recheada de divertidos efeitos, ruídos e sons cacofônicos.
Discreto, exceto pelo fraseado delirante de sua guitarra, McLaughlin enfrentou Gismonti no aplaudido duelo de "Em Família", bem-acompanhados por Zeca Assumpção (contrabaixo) e Nando Carneiro (teclados). A exuberância técnica do inglês foi respondida pelo brasileiro com sonoridades inusitadas, extraídas até mesmo da cravelha do violão. Um combate de gigantes das cordas que terminou em delicioso empate.
Outro convidado de Gismonti, o bandolinista Joel Nascimento também agradou bastante a platéia, trazendo todo o lirismo da tradição do choro a "Sete Anéis" e "Ruth" (valsa de Antonio Gismonti, avô de Egberto).
Porém, quem deve ter saído mais satisfeito do Palace foi o próprio Gismonti. Teve enfim a chance de mostrar seu trabalho orquestral já exibido com sucesso por várias sinfônicas no exterior, mas que permanecia absurdamente inédito nos palcos do país.
Se ouvir uma orquestra hoje no Brasil já é coisa rara, a associação da Jazz Sinfônica com Gismonti, McLaughlin e Nascimento foi uma ótima idéia. A penhorada cultura brasileira agradece.

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