São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Indecisão perigosa

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Até ontem à noite, a cúpula do Congresso ainda não sabia como (e se) reagir diante da lista dos parlamentares supostamente envolvidos com dinheiro do jogo do bicho –aliás, não dava nem mesmo segurança sobre se iria reagir. Não tem o menor sentido.
Quando um economista, preso sob acusação de matar a própria mulher, entregou nomes de parlamentares ligados à roubalheira na Comissão de Orçamento, houve uma reação imediata –e correta. Criou-se uma CPI, disposta a cassar deputados e senadores que tivessem tomado dinheiro, por exemplo, das empreiteiras.
O caso, agora, é pior. O dinheiro drenado pelo jogo do bicho tem conexões com o crime organizado, passando pela indústria do sequestro ao tráfico de drogas. É sabido que, na América Latina, o narcotráfico prosperou em largas escala porque se infiltrou em nível federal, ganhando a adesão de políticos. E prosperou em grande parte pela omissão.
Não vai, aqui, por enquanto, nenhuma acusação de que os parlamentares listados estariam
envolvidos diretamente com o narcotráfico, mas não deixa de servir como um ponto de apoio. É óbvio: os banqueiros financiaram campanha não por benemerência, mas na busca de proteção.
Daí que a reação do Legislativo tem de ser duríssima e produzir, imediatamente, uma CPI sobre o jogo do bicho –e, se possível, alargar-se para outros Estados. A preocupação, claro, não é o jogo do bicho em si, mas descobrir até onde serve de fachada ao crime organizado.
Esse pessoal deve ser tratado como câncer: é preciso ser extirpado antes que domine todo o corpo social.
PS – Durante a apresentação do livro "Como Não Ser Enganado nas Eleições?", ontem de manhã, o Datafolha entrevistou 89 alunos de escolas públicas e privadas de São Paulo.
Resultado: Fernando Henrique, 43%; Lula, 31%. À tarde essa mesma questão foi colocada por professores para alunos do Colégio Bandeirantes, frequentado pela elite paulistana: FHC, 50%; Lula, 15%. Os dois levantamentos, embora parciais, são uma indicação de que o PSDB pelo menos em São Paulo está colhendo boas notícias entre os "caras-pintadas".

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