São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Cientista russo elogia universidade brasileira

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientista russo elogiauniversidade brasileira
Em debate na Folha, pesquisador fala de seu trabalho no país
Há um país onde as universidades têm computadores suficientes e avançados, seus laboratórios são bem equipados e é fácil fazer contatos científicos com o exterior através de redes de comunicação informatizadas.
Esse país é o Brasil. As universidades, as três estaduais paulistas, USP, Unicamp e Unesp, segundo a avaliação de pesquisadores russos que vieram trabalhar aqui. Ou pelo menos na opinião de cinco físicos e químicos que participaram na última quinta-feira do debate "Pesquisadores russos no Brasil", promovido pela Folha e coordenado pelo professor aposentado de língua e literatura russa na Universidade de São Paulo.
No debate, os cientistas russos fizeram questão de frisar que não são exilados fugidos do seu país. Receberam convites de laboratórios brasileiros de sua área e publicam em revistas científicas internacionais. Além do mais, em alguns casos, características específicas do Brasil tornavam o convite mais atraente para os cientistas.
Petr Melnikov, por exemplo, professor visitante de química inorgânica da Unesp (Universidade Estadual Paulista) veio da Universidade de Moscou para continuar sua pesquisa sobre terras-raras, um grupo de elementos químicos de propriedades metálicas, alguns usados em ligas.
Segundo Melnikov, além desses elementos serem abundantes no Brasil, a pesquisa sobre o assunto é avançada no país.
Apesar de elogiar os laboratórios e a disponibilidade de computadores, os cientistas dizem que gostariam de voltar para a Rússia se tivessem condições de trabalho, mesmo apesar de algumas experiências amargas. A física Galina Pugacheva diz que membros de seu instituto tiveram que colher trigo no Casquistão para não perderem os empregos, por exigência do Partido Comunista.
Galina, que estuda na Unicamp anomalias no campo magnético –típicas sobre o Brasil-, diz que, apesar de ter poucos colegas na área por aqui, pode dialogar com pesquisadores de fora através de computadores.
"Em três minutos, recebo nos computadores de minha universidade respostas de colegas americanos respostas às minhas questões", diz Galina. Seu marido, Anatoly Gusev, diz que o equipamento do laboratório de física nuclear da Unicamp é melhor do que o de muitas universidades americanas.
Além de boas condições de trabalho, os debatedores apontaram características comuns entre o trabalho acadêmico no Brasil e na Rússia. O nível dos alunos seria semelhante, assim como a liberdade no estilo de pesquisa -brasileiros e russos seriam mais "soltos" do que americanos, de orientação mais rígida.
Segundo o físico Gregory Surdutovitch, da USP de São Carlos, os procedimentos de avaliação também seriam semelhantes. "Não há muita cobrança nem lá nem aqui, se comparado com os EUA, e acho isso bom. Cansei de ver gente fazendo relatórios enganosos de produtividade. A atividade científica tem que ser medida por outros parâmetros", explica.

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