São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Influência de pesquisa é pequena

GUSTAVO VENTURI
DIRETOR DE OPERAÇÕES DO DATAFOLHA

Proibida durante as eleições de 1985, a divulgação de pesquisas eleitorais antes da eleições foi liberada em 88. Na época, atendendo representação impetrada por veículos e institutos de pesquisa, os juízes do STF entenderam que a proibição fere o direito constituicional à informação.
Às vésperas de nova eleição, o Congresso revisor reabre agora a discussão através de parecer do deputado João Almeida (PMDB-BA), a pedido do relator Nelson Jobim (PMDB-RS). A justificativa, partilhada pelo senso comum, baseia-se na idéia de que a divulgação de pesquisas leva um grande contingente de eleitores a votar no candidato que está à frente, distorcendo o que seria um resultado "puro", não contaminado pela indução da opinião pública.
Visto que a adesão a valores democráticos – como o dirito à informação – é no limite um problema de consciência, antes da discussão de princípios, vale a pena avaliarmos em que extensão as pesquisas de fato induzem os eleitores, sobretudo os que chegam indecisos à véspera do pleito, a votarem no candidato que lidera a disputa.
Na tentativa de medir esse fenônemo , o Datafolha fez uma pesquisa de opinião junto aos eleitores paulistanos em 28 de março passado (1). Os dados obtidos – muito próximos aos de pesquisa nacional do Ibope realizada após o 2º turno das eleições presidenciais de 89 (2) – indicam que apenas um em cada cinco eleitores (19%) confirma já ter passado alguma vez pela experiência de estar indeciso e depois definir seu voto levando em conta os resultados de pesquisas eleitorais; e que só um em cada oito (13%) confirma já ter mudado de voto por causa das pesquisas.
Ora, dirão alguns, embora minoritários esses contingentes são mais do que suficientes para definirem qualquer eleição. Sem dúvida, caso ocorressem em um único pleito e principalmente se fossem todos na mesma direção. Mas não é isso o que ocorre. Agrupados os que definiram ou mudaram o voto em função dos resultados de pesquisas, a maior parte (35% ou 6,8% do total dos que já puderam votar ao menos um vez) votou em outro candidato que não o seu, para derrotar um perceiro que liderava a disputa.
Ou seja, este grupo exerceu o chamdo voto útil, com o qual pode-se não concordar mas cuja racionalidade embutida não admite que o classifiquemos como um voto alienado ou manipulado. Aliás, a taxa dos que admitem ter praticado tal voto cresce de 23% entre os que não ultrapassaram o 1º grau para 70% entre os que atingitam o nível superior de escolaridade (dentre os que já se influnciaram por pesquisas).
Em segundo lugar, com 23% dos que já definiram ou mudaram o voto por causa de prévias eleitorais (4,3% do total) está o temido grupo dos que afirmam terem votado no candidato que estava à frente "para não perder o voto". Mas logo abaixo, neutralizando esse efeito, há 18% (ou 3,5% do total) que fizeram exatamente o oposto: votaram "de propósito"em um candidato que não tinha chance de ganhar. Finalmente, outros 17% (3,2% do total) deixaram de votar, votaram em branco ou anularam seu voto diante da impossilidade de vitória de seu candidato.
Em suma, além de relativamente pequena, a influência direta da divulgação dos resultados de pesquisas eleitorais parece ser sobretudo contraditória, tornando bastante residual o efeito do costume, supostamente difundido entre os eleitores brasileiros, de apostar no cavalo favorito.
Diante dessas evidências, fica a dúvida: talvez dependentes de esquemas do tipo "toma lá dá cá", a preocupação dos políticos que querem censurar as pesquisas não seria com a proteção de eleitores ingênuos, mas antes com o esvaziamento das contribuições financeiras para suas campanhas que uma má colocação nas pesquisas pode provocar.

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