São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Morte lenta

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – A revisão constitucional agoniza. E revela, nos seus estertores, como está moribundo o próprio sistema político brasileiro.
O país está num impasse. Não um impasse econômico, por que mal ou bem caminha. É besteira, também, se falar em crise moral. De alguns anos para cá, e não apenas a partir do Collorgate, há uma nítida reação da sociedade que vem resultando no amadurecimento da cidadania.
A crise é política. O fracasso da revisão constitucional indica claramente que seremos obrigados a prorrogar por mais alguns anos este já longuíssimo e extenuante período de transição.
Não há dúvida de que o Estado brasileiro tal como está organizado precisa ser reformado. É necessário que se repense seu papel e a extensão de sua atuação. Mas estou cada vez mais convencido de que o maior problema nosso é a postergação das reformas políticas.
Os cientistas políticos gostam de repetir que o Congresso é reflexo da sociedade que o elegeu. Desconfio que neste momento isso não seja verdade. Em poucos momentos da história os dois estiveram tão distanciados.
A impressão que tenho é a de que o choque de cidadania, a opção pelo trabalho árduo, a consciência de que é necessário mudar e se atualizar que se disseminam pela sociedade não chegaram ao Congresso e nem aos partidos políticos. Entre os interesses públicos e os interesses próprios, Congresso e partidos fizeram a opção definitiva pelo corporativismo.
O escândalo do Orçamento, a lentidão do processo de investigação e de punição dos culpados; a falta de pudor nos gastos do dinheiro público com aumentos salariais, impressão indevida de material de propaganda eleitoral, com o inchaço e a ociosidade da máquina legislativa; a gazeta como rotina, a falta de apetite para o trabalho, o adiamento frequente de votações e decisões –nada disso reflete o comportamento da sociedade.
Com a revisão agonizam o atual Congresso e os partidos políticos. Que a terra lhes seja leve.

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