São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994
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Pacote tenta recuperar lavoura de trigo

SÉRGIO PRADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O pacote do trigo, anunciado no final de março pelo Ministério da Agricultura, não deve surtir efeito nesta safra de inverno.
Apesar de as medidas terem agradado os produtores, boa parte da área destinada ao plantio de inverno ainda deve ser ocupada com milho da safrinha e até culturas alternativas como a canola.
Para tentar recuperar a produção de trigo no país, o governo fixou preço mínimo de US$ 140 para a tonelada, além de financiamento para custeio escalonado de acordo com a qualidade do produto, alterações na alíquota de importação e a promessa de sobretaxar o trigo importado que tiver subsídio na origem.
A expectativa é de que a médio prazo as medidas, se mantidas, devem incentivar a recuperação da lavoura de trigo.
Para o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Roberto Rodrigues, a nova alíquota vai garantir competitividade aos agricultores brasileiros que forem eficientes.
"Se esta política for mantida, em quatro anos poderemos atender a demanda interna de trigo", diz Rui Polidoro Pinto, presidente da Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do RS (Fecotrigo).
Ele ressalva que os produtores precisarão demonstrar maior competitividade diante das atuais regras do mercado internacional.
O Brasil consome, hoje, cerca de 6,7 milhões de t ao ano e produz 2,2 milhões de t do grão.
Para abastecer o mercado interno, o país importará este ano 5 milhões de t, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento.
"Se usássemos no campo os US$ 700 milhões que gastamos por ano com importação, seria possível financiar o plantio de 3,4 milhões de ha", diz Dick Carlos de Geus, da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Segundo ele, nesta área plantada seria possível colher cerca de 7 milhões de t. A produtividade brasileira atingiu a média de 1.800 quilos por hectare. A Argentina, por exemplo, colhe 2.400 quilos/ha.
A decadência da cultura de trigo no Brasil iniciou entre 89 e 90, quando a comercialização foi privatizada e o Banco do Brasil parou de comprar o produto.
Com a extinção dos subsídios, a produção nacional despencou e rapidamente perdeu competitividade.
"A indústria passou a utilizar trigo importado com subsídio na origem, criando uma concorrência desleal que quase destruiu a triticultura", diz Polidoro Pinto.

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