São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994
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O valor do café

JOSÉ PROCÓPIO LIMA AZEVEDO

Nestes últimos anos a cafeicultura sofreu uma colossal perda de receita. O produtor foi levado a um crescente endividamento, só recentemente aliviado por prorrogações de vencimentos. Nem mesmo um profundo corte nas despesas foi capaz de fazer as pontas emendarem. Existe uma situação inexplicável para alguns já que estão recebendo pelo café mais ou menos a média histórica entre US$ 70 e US$ 80 por saca na fazenda.
Quando o Acordo Internacional do Café acabou em 3 de junho de 89 era esse o preço que recebiam. O mínimo de US$ 1,20 das cláusulas econômicas correspondia a US$ 158,40 bruto ou a US$ 130 líquido por saca. O cafeicultor nunca recebia esse total. Com os diversos tipos de confisco, o valor resultava em US$ 70 líquidos.
Como se explica que US$ 70 era bom nas décadas de 60, 70 e 80 e hoje é muito pouco?
Quando o acordo foi realizado em 62, o poder de compra do dólar comparado ao de hoje era 10 vezes maior.
O que se comprava com um dólar na época, necessita hoje de 10 dólares. Assim, o preço que se recebia no início do acordo de US$ 70 líquidos por saca equivaleria hoje a US$ 350, se tomarmos só a metade da desvalorização do dólar nestes 32 anos.
Dá para entender porque a cafeicultura está insolvente embora venda o seu produto aparentemente pelo mesmo preço.
Essa ordem de raciocínio nos conduz à crítica severa aos valores estabelecidos no extinto acordo. Agora se pode ver claramente porque a Colômbia triplicou sua produção durante esse acordo. Também pudera, US$ 350 por saca de café transforma o cafeeiro na árvore das patacas.
De novo se fala em acordo. As dificuldades parecem insuperáveis. É bom, porém, não esquecer o que os preços elevados ocasionaram ao Brasil. Ainda mais quando o preço do mercado internacional nunca chega ao cafeicultor brasileiro.

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