São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994
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Carro de Senna fica órfão da eletrônica

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL A AIDA

A nova cara que a Fórmula 1 assumiu depois de duas etapas da temporada de 94 tem duas explicações básicas.
A primeira é óbvia e não basta para justificar as vitórias de Michael Schumacher (Benetton), derrubando o favoritismo de Ayrton Senna (Williams): regras novas, com fim dos dispositivos eletrônicos e adoção do reabastecimento.
Alguma coisa tinha que mudar. Se acabarem com o impedimento no futebol, talvez o Palmeiras leve mais tempo para se adaptar do que a Ferroviária, por exemplo.
A segunda razão é menos óbvia. A Williams fez um carro ruim, ao contrário do que se podia esperar –afinal, nos últimos dois anos a equipe venceu 20 dos 32 GPs que disputou, fazendo ainda 30 pole-positions.
O novo time de Senna foi pego de surpresa. A lógica não indicava que a máquina, de uma linhagem vencedora, teria problemas.
O modelo da Williams para 94, batizado de FW16, tem problemas. Seu projeto aerodinâmico é, teoricamente, muito bom.
Mas esse projeto não funciona fora das condições que eram criadas artificialmente pelas suspensões ativas (ver glossário). Em circuitos de pista ondulada, o potencial aerodinâmico vai para o brejo.
Nas pistas lisas e velozes, o carro vai andar melhor. Pode-se afirmar que o FW16 é quase imbatível nessas condições, porque tem um motor mais potente que os demais. O propulsor V10 da Renault é o ponto forte da equipe, atualmente.
A Williams, agora, depende de desenvolvimento. Os engenheiros precisam descobrir fórmulas que melhorem o rendimento do carro em circuitos menos favoráveis.
A maior rival da equipe inglesa este ano, a Benetton, não tem tais dificuldades. Seu carro nasceu, em 91, projetado para usar suspensões convencionais.
Evoluiu muito, manteve o conceito do bico alto que otimiza os fluxos de ar sobre e sob a máquina, e não perde rendimento em circuitos ondulados.
Por isso que Schumacher venceu os GPs do Brasil, em Interlagos, e do Pacífico, em Aida (Japão), anteontem.
Junte-se a isso o fato de Senna não estar guiando bem, e eis um campeonato novo. Ayrton cometeu um erro em Interlagos e rodou.
No domingo, largou mal e, como consequência, acabou envolvido numa batida boba na primeira curva. Senna está sob pressão, embora não admita isso.
Quando ele foi para a Williams, assumiu a condição de favorito e cada derrota tem um impacto muito maior, nessas condições.
No mais, as corridas continuam as mesmas. Sem veteranos como Riccardo Patrese, Derek Warwick, Alain Prost e Thierry Boutsen, caras novas surgiram. Mas os GPs ainda carecem de emoção.
A fórmula para se dar bem em uma prova hoje é largar entre os dez primeiros, não se envolver em confusões nas primeiras voltas, fazer pit stops rápidos e esperar o pessoal da frente quebrar.
As ultrapassagens arriscadas, as disputas demoníacas de posição e os bons resultados dos que saem lá atrás no grid continuam sendo uma remota lembrança do passado. Pilotos de F-1, hoje, erram pouco. Quem erra menos, leva.

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