São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 1994
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Legislação em Washington ameaça luta anti-Aids

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Depois de dois anos, o programa do governo de Washington para substituir agulhas usadas por novas para viciados em drogas está ameaçado.
O projeto tenta reduzir a propagação da Aids. Dos 1.500 novos casos da doença registrados na cidade no ano passado, 468 envolviam dependentes de drogas.
No Brasil, o projeto que libera a distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis está em tramitação na Câmara Federal (leia texto ao lado).
Apenas 58 usuários habituais de drogas intravenosas da capital dos EUA (de um total estimado em 16 mil) recorreram ao programa.
O fracasso é atribuído ao fato de a lei local ser muito restritiva. Outras 39 cidades americanas usam o sistema com maior êxito.
Ao contrário do que acontece em outros locais, em Washington as agulhas novas só podem ser recolhidas pelos usuários de drogas em um único local.
Quem procura as agulhas é obrigado a preencher longos questionários sobre seus hábitos e a se submeter a exames médicos.
As exigências intimidaram os usuários de drogas, que recusaram o programa.
Outra reclamação dos participantes diz respeito ao tamanho das agulhas distribuídas, que seriam grandes demais.
A Câmara Municipal de Washington vai decidir se extingue o programa ou abranda os pré-requisitos para os viciados.
Militantes da campanha anti-Aids prometem mobilização em defesa da manutenção do projeto.
Eles usam como argumento estudo do ano passado feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças sobre as 40 cidades do país onde projetos similares existem e que atesta a sua eficácia.
Em New Haven, Connecticut, costa leste dos EUA, 1.643 usuários de drogas intravenosas trocam suas agulhas com a prefeitura há quatro anos.
A participação de viciados no total de novos casos de Aids em New Haven caiu 30% nesse período. Um terço dos adeptos do programa resolveu se submeter a tratamento para curar a dependência.
Em New Haven, peruas da prefeitura circulam pelos bairros com maior concentração de usuários de drogas com as agulhas novas.
Nenhuma exigência é feita a quem se apresenta para retirá-las.
A maior cidade dos EUA que utiliza um programa desse tipo é Nova York.
Entre 1989 e 1991, o programa adotado por Nova York tinha uma série de restrições, como o de Washington. Em 1992 foi reabilitado, nos moldes da experiência de New Haven. A nova versão vem dando certo.
Outras cidades importantes dos EUA em que o programa é considerado um sucesso são: Boulder, Seattle, Portland, Honolulu e Takoma. No Brasil, o projeto que libera a distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis está em tramitação na Câmara Federal (leia texto ao lado).

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