São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 1994
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África do Sul faz acordo para salvar sua eleição

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os líderes sul-africanos chegaram ontem a um acordo para salvar as primeiras eleições multirraciais do país. O zulu Mangosuthu Buthelezi aceitou concorrer e suspendeu a convocação de um boicote às eleições da semana que vem.
Buthelezi, do partido zulu Inkatha, Nelson Mandela, candidato à Presidência pelo partido Congresso Nacional Africano (CNA), e o presidente do país, Frederik de Klerk, do Partido Nacional, negociaram o acordo.
Ele prevê a manutenção da "instituição, do status e do papel do rei zulu e do reino de KwaZulu". KwaZulu é território dos zulus na província de Natal.
Os territórios autônomos e os bantustões (territórios que a África do Sul declarou independentes) deixarão de existir depois das eleições. O Inkatha, que luta pela independência dos zulus, não aceita o fim de KwaZulu.
A oposição entre o Inkatha e o CNA, favorito para vencer as eleições, já causou mais de 20 mil mortes em uma década no país.
"Mesmo agora não acho que devamos superestimar o que conseguimos", disse Buthelezi sobre o acordo. "Ainda temos que lidar com o povo nas ruas."
O acordo foi mediado por Washington Jalang'o Okumu, professor universitário do Quênia. Ele era assessor do ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kisinger, que, na semana passada, deixou a África do Sul antes de começarem as negociações dizendo que mediá-las era uma tarefa impossível.
Segundo Okumu, Kisinger tentou uma abordagem "ocidental", propondo datas e metas. "Isso não funciona na África. Temos de nos dirigir a susceptibilidades e preconceitos profundos", disse.
Um confronto entre simpatizantes do CNA e do Inkatha deixou pelo menos cinco mortos em Tokoza, subúrbio de Johannesburgo, ontem. Foi o segundo dia do tiroteio que começou em torno de uma hospedaria de trabalhadores zulus.
A Força Nacional de Manutenção da Paz teve sua primeira baixa. Um soldado foi atingido na cabeça. A força tem a função de manter a ordem durante a transição.
A Força de Defesa Sul-Africanas, que deixou Tokoza na semana passada, voltou ao subúrbio. Também interveio no tiroteio a Unidade de Estabilidade Interna (UEI), o mais temido e detestado corpo policial do país entre os negros.
A porta-voz das Forças de Manutenção da Paz, Muff Andersson, disse que a tensão piorou com a chegada da UEI. Segundo ela, os policiais mataram quatro pessoas.
David Bruce, porta-voz da polícia, disse não saber de mortos pela polícia. Segundo ele, a UEI entrou em Tokoza para retirar um cadáver e foi recebida a tiros.
"Essas hospedarias não servem para nada. Depois das eleições vamos pegar tratores e destruí-las. Essas pessoas são animais", disse um morador de Tokoza.

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