São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 1994
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Bola fora

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Na busca de autopromoção, os governantes frequentemente promovem picaretagens administrativas que, por estarem dentro da lei, não geram espanto e indignação. Mas a verdade é que significam desperdícios tão grandes ou maiores do que a corrupção. Assiste-se, agora, um absurdo com o dinheiro público –desta vez contracenado por Pelé, numa jodada arquitetada pelo ex-govenador Leonel Brizola.
Brizola resolveu investir uma fortuna na divulgação nacional de seus Cieps e atraiu Pelé como garoto-propaganda. A pergunta é simples: por que o cidadão do Rio tem de pagar impostos para divulgar seu governo a quem mora em Brasília, São Paulo ou Cuiabá?
Incrível que se cometa um descalabro tão grande à luz do dia. Brizola está em campanha e para isso não se mostra constrangido em usar dinheiro público, que poderia, por exemplo: 1) construir mais escolas, 2) reformar prédios, 3) melhorar o salário dos professores.
Pelos bastidores da sucessão, comenta-se que Pelé teria maiores pretensões do que servir de garoto-propaganda. Fala-se que tentaria uma vaga a senador ou vice-presidente. Mas ainda não se conhece sua ficha de filiação ao PDT –aliás, não é do conhecimento público se o milionário Pelé recebeu (e quanto) para demonstrar sensibilidade com a educação de crianças carentes.
Brizola vive dizendo que a educação é sua prioridade número um, o que é ótimo. Estivéssemos, porém, num país em que todo o eleitor recebesse ensino básico de qualidade, conhecendo seus direitos, o ex-governador viraria alvo fácil. Seria execrado pela maioria de seus eleitores por torrar dinheiro público para se promover.
PS – A Folha divulgou ontem que o ex-governador Antônio Carlos Magalhães está pensando em fazer um livro com os recados, via fax, mandados a aliados e adversários. Fiquei com a curiosidade de saber se vai ter coragem de divulgar os bilhetes que mandou para esta coluna. Não foi apenas uma vez que, na falta de argumentos para rebater as críticas, escolheu minha mãe como alvo. Soube que, nas conversas com assessores e jornalistas, ele se orgulhava de sua baixaria. Talvez com esse livro ACM consiga, enfim, indicação para a Academia Brasileira de Letras, onde não lhe faltam amigos.

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