São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Resta-nos torcer para Romário e Bebeto

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Meus amigos, meus inimigos, a seleção brasileira mostrou que o seu maior problema está longe de ser resolvido.
O meio-campo, farol de toda grande equipe, não dá sinais de que poderá ser alguma coisa eficiente e produtiva.
A esta altura, não dá, até mesmo, sinais de esperança.
Raí voltou ao seu monólogo interior. Não sei se não se sente à vontade neste belo estádio, onde vem sendo humilhado pela torcida do Paris Saint-Germain.
O fato é que ontem voltou a ser aquele sol negro da melancolia.
Zinho, a cada jogo, demonstra que não é mesmo a instância de criação, a zona de invenção de que estamos precisando.
Dunga, bem, Dunga é tautológico. Dunga é o Dunga e que Deus nos acuda.
Com um meio-campo destes, que não consegue dar assistência ao ataque, que não entrega a bola em boas condições de finalização, fica difícil para os avantes.
E tanto faz se é Muller, Edmundo, Paulo Sérgio, Viola, Evair ou Ronaldo.
Além disso, Carlos Alberto Parreira continua escalando mal. Sair jogando com Zinho e Rivaldo é o mesmo que escalar a dupla lugar comum e lugar comum. Os dois são jogadores de mesma característica, que costumam atuar na mesma faixa do terreno. Ontem, o mau posicionamento prejudicou os dois. Zinho ficou como segundo volante "cover" e Rivaldo, sem espaço para jogar.
No segundo tempo, quando foi mais à frente com três atacantes típicos (Paulo Sérgio, Muller e Edmundo, depois Viola), com Raí também mais avançado, o time melhorou.
E o jogo deixou de ser aquele tédio do primeiro tempo.
Mas mesmo assim Parreira não conseguiu dar o posicionamento adequado. Ele deslocou Muller para a direita e deixou Paulo Sérgio na esquerda. Ora, o Paulo Sérgio, desde os tempos do Corinthians, é um jogador que tanto pode jogar pela direita quanto pela esquerda.
O mesmo ocorre com o Muller. Com um detalhe –e Deus, como se sabe, está nos detalhes.
Muller, pela esquerda, está acostumado a jogar com o Leonardo –que havia substituído o Branco. Ora, o único setor deste ajuntamento de jogadores de camisa amarela que estavam ontem aqui em Paris que tinham diálogo, que tinham interface, eram justamente o Leonardo e o Muller.
Resultado: divórcio pelo lado esquerdo e divórcio pelo lado direito, pois Cafu caiu de produção no segundo tempo.
Moral da história: torcer muito para que Romário e Bebeto façam a grande diferença no próximo Mundial.
A cerveja Brahma montou uma operação de guerrilha no Estádio Parc des Prince. O objetivo era que o logotipo da cerveja nas placas do estádio, a torcida número 1, e a música da campanha da cervejaria para a Copa aparecessem nas transmissões da Globo, patrocinada pela Kaiser, e da Bandeirantes, patrocinada pela Antarctica. A Brahma levou 1.000 uniformizados brasileiros que moram na França para o estádio, que ficaram estrategicamente colocados em posições onde as câmeras da TV francesa seriam obrigadas a captar imagens.
Além disso, a Brahma conseguiu enfiar um profissional de televisão, Ciro Pelicano, na edição das imagens que a TF1 enviava ao Brasil –e que tinha tomadas da torcida número 1.
A Brahma conseguiu ainda junto ao Paris Saint-Germain que duas imensas bandeiras da torcida número 1 entrassem no gramado, antes do jogo, e que os alto-falantes do estádios executassem o "jingle" da campanha. Segundo Eduardo Fischer, da Fischer e Justus, agência de publicidade da Brahma, a operação custou US$ 250 mil.

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