São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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O que seu filho está lendo?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – É uma informação estarrecedora. Fôssemos um país com uma elite preocupada de fato com a cidadania, haveria comoção nacional. Um detalhado documento do Ministério da Educação, obtido ontem pela Folha, denuncia que a maioria dos livros didáticos, usada por alunos de escolas públicas e privadas, simplesmente não presta ou contém "distorções e erros crassos".
São números gigantescos. Só para a rede pública, são distribuídos 67 milhões de livros, destinados a 28 milhões de alunos. Custo: US$ 110 milhões por ano. O relatório foi preparado por uma comissão de 23 professores universitários, analisando os dez livros mais requisitados de cada disciplina: português, matemática, ciências e estudos sociais.
Até fraudes foram descobertas. A editora muda a capa de um livro antigo, apresentando-o como novo. Constatou-se que a maioria dos livros está descolada da realidade. Sem contar erros de português e de rudimentares conceitos de matemática.
A avaliação dos especialistas é de que os boa parte dos livros didáticos não estimula o raciocínio –o aluno é visto como um ser passivo. E, pior, estimula o preconceito racial, mostrando o negro numa posição subalterna.
Melhor retrato do país impossível: o livro didático ajudando a difundir ignorância e desinformação. E com dinheiro público. Claro que, como sempre, alguém fatura. E muito.
Só não dá para entender como por tanto tanto tempo, o Ministério da Educação nunca se deu ao trabalho de analisar o que compra para educar (ou, no caso, deseducar) a população.
PS – Por falar em educação, há um ponto a ser analisado neste ano de sucessão. Na apresentação do livro "Como não ser Enganado nas Eleições" para estudantes de São Paulo, foi feita uma prévia: FHC ganhou de Lula. Num dos levantamentos, bateu nos 50%.
Ontem, para alunos de Brasília, foi a vez do candidato do PT passar na frente de FHC: 27% a 11%. Em comum (e preocupante) é a taxa de votos nulos. Em Brasília, 40% querem anular o voto. Em São Paulo, 25%. É um grave sinal de desânimo não apenas com os candidatos, mas, no fundo, com a democracia.

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