São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Maestro Rostropovich deixa EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Orquestra Sinfônica Nacional dos EUA vai ter novo maestro a partir deste ano: o russo Mstislav Rostropovich volta a seu país-natal depois de 17 anos, e o norte-americano Leonard Slatkin assume.
A mudança oficial só ocorre em 1996 porque Slatkin tem contrato até lá com a Sinfônica de Saint Louis, Missouri, meio-oeste do país, da qual é diretor há 27 anos.
Mas ele começa a reger a Sinfônica Nacional como "maestro indicado" a partir da abertura da temporada 1994-1995, em setembro. Rostropovich deixa Washington em junho.
A mudança é cheia de carga simbólica. Sai um estrangeiro idoso, representante de uma das mais renomadas tradições musicais da Europa, entra um jovem aborígine, produto de uma cultura que não se destaca pela produção erudita.
Mais do que isso, Slatkin, 49, é um defensor, ainda que não radical, das teorias segundo as quais as orquestras sinfônicas norte-americanas precisam se americanizar se quiserem sobreviver.
Ele é um americano típico, criado na Califórnia, deve boa parte de sua formação a músicos que trabalhavam na indústria cinematográfica, gosta de jazz e TV e admira os compositores eruditos de seu país.
Slatkin tem todas as qualificações exigidas de um grande maestro. É respeitado fora dos EUA, onde costuma reger a Philarmonia Orchestra de Londres, a Orquestra Nacional da França e a Filarmônica de Israel, entre outras.
Além disso, se a Sinfônica de Saint Louis está hoje entre as mais respeitadas do mundo, deve essa distinção a Slatkin, que fez seu prestígio com repertórios clássicos.
Slatkin não chega a se alinhar entre os regentes revolucionários que defendem telas de TV nas salas de recital para o público acompanhar closes de músicos e instrumentos como em shows de rock.
Mas ele é diferente de Rostropovich e da maioria dos regentes de grandes orquestras dos EUA e de outros países do mundo.
Se puder, sem romper demais com a tradição para não assustar a clientela, ele vai renovar o repertório da Sinfônica Nacional: mais americanos e mais contemporâneos com certeza vão aparecer.
Em 8 de setembro, quando estrear no pódium do Kennedy Center à frente da Sinfônica, o programa será composto de Verdi (abertura de "La Forza del Destino"), Mozart ("Concerto para Piano nº 23") e o americano Copland ("Sinfonia nº 3", uma de suas peças menos conhecidas do público). Já é um sinal de mudanças.
Slatkin também defende o envolvimento das orquestras com suas comunidades. Acha que os músicos têm que ir a escolas e hospitais levar música aos que não vão habitualmente a ela.
Tempos excitantes esperam uma das mais importantes orquestras dos EUA, que pode se tornar um laboratório para o futuro da música sinfônica no país.

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