São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Preços em URV sobem e governo quer real em julho

SÔNIA MOSSRI; INÁCIO MUZZI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo detectou inflação de 5% entre março e abril nos preços que já foram convertidos em URV (Unidade Real de Valor) e decidiu fixar a data de 1º de julho para lançamento da nova moeda, o real. Em abril, a inflação em URV deverá atingir 3%.
A equipe do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, avalia que o anúncio da criação do real em 1º de julho, com 35 dias de antecedência, e das regras de passagem para contratos ainda não transformados em URV, daria segurança aos empresários e promoveria um recuo nos aumentos de preços.
Desde a implantação da URV em 1º de março, o governo descobriu que muitos empresários converteram seus preços ao novo indexador e, posteriormente, aumentaram esse valor em URV. O governo esperava que um preço convertido para a URV ficasse fixo no novo índice, variando apenas em cruzeiros reais.
Uma pesquisa do Procon-Dieese revela que apenas nos 18 primeiros dias de abril o pó de café acumula uma alta de preços de 8,75% em URV.
Existe consenso na Fazenda de que esses aumentos de preços em URV devem se limitar aos primeiros 60 dias de implantação do novo indexador. Nesse prazo, calcula o governo, a maior parte dos agentes econômicos ainda estaria insegura com relação ao plano e com a própria URV.
A URV varia diariamente seguindo a oscilação do dólar comercial. Oficialmente, ela foi definida com base na variação de índices de preços da FGV (Fundação Getúlio Vargas), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A "inflação urverizada" foi um dos principais motivos que levaram a equipe econômica a descartar o lançamento do real em 1.º de junho. Essa alta de preços poderia contaminar a nova moeda.
Alguns integrantes da equipe de Ricupero, como o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, afirmam que seria impossível ter inflação em URV.
O argumento é que existe inflação medida por um índice (URV), que, por sua vez, baseia-se em mais outros três de diferentes institutos.
A inflação "urverizada" resultaria de dificuldades de adaptação dos institutos de pesquisa à convivência paralela de preços em URV e cruzeiros reais. O economista Gil Passe, especialista em índices, concorda com essa tese da Fazenda.
O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, reúne-se com toda a equipe econômica na próxima quinta-feira, 28 de abril, para definir as medidas que antecedem a criação do real, previsto para 1º de julho.
Antes disso, o chefe de gabinete da Fazenda, Sérgio Amaral, comanda uma série de reuniões na equipe para discutir o regime cambial que vigorará após o lançamento da nova moeda e as regras para emissão do real.
Além de Amaral, participam da reunião de quinta-feira o presidente do Banco Central, Pedro Malan, o diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, o assessor especial, Edmar Bacha, o secretário de Política Econômica, Winston Fritsch, e o o assessor especial, Edmar Bacha.
O secretário da Receita Federal, Osiris Lopes Filho, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Pérsio Arida, o secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, e o secretário executivo, Clóvis Carvalho, também estarão presentes.
Na prática, será a primeira reunião de Ricupero com todos os principais assessores da Fazenda. (SM)

Colaborou INÁCIO MUZZI, do Painel, em Brasília

Texto Anterior: Itamar visita hospital escondido de jornalistas
Próximo Texto: Nova MP facilita venda da Embraer
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.