São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Otan dá prazo para recuo sérvio

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Otan (Aliança militar ocidental) deu ontem ultimato aos sérvios que sitiam Gorazde, na Bósnia. Eles têm que recuar a três quilômetros do centro do encrave muçulmano até o primeiro minuto de amanhã (21h01 de Brasília).
Se eles não recuarem, impedirem a passagem de soldados da ONU ou a retirada de feridos, aviões da Otan poderão atacar qualquer alvo militar num raio de 20 km de Gorazde, declarada área de segurança pela ONU.
O enviado especial da ONU à Bósnia, Yasushi Akashi, disse à noite que os sérvios aceitaram as condições e vão retirar as armas do encrave muçulmano.
Akashi não deu detalhes das negociações que manteve com o líder sérvio Radovan Karadzic. Ele disse que tropas da ONU vão entrar na cidade, mas não revelou a data.
"A situação requer ação", disse Manfred Woerner, secretário-geral da Otan, ao anunciar a medida. O ultimato foi decidido em reunião da Otan ontem em Bruxelas.
O uso de ataques aéreos para forçar os sérvios a um recuo foi pedida pelo secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali.
O plano da Otan foi desenhado pelos EUA. O representante americano na Otan, Robert Hunter, disse que o plano não atola a Otan em regras. "Não se terá que procurar um alvo específico", disse.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, elogiou o ultimato. "Os sérvios não devem duvidar da vontade de agir da Otan", disse.
Mais tarde, a Otan decidiu estender o uso da força aérea para proteger todas as áreas de segurança da ONU na Bósnia. São as cidades de maioria muçulmana de Tuzla, Bihac, Srebrenica e Zepa, além de Gorazde e Sarajevo, protegida desde fevereiro.
Os sérvios cercam Gorazde há três semanas. De acordo com a Médicos sem Fronteiras, organização assistencial internacional sediada na França, 535 pessoas morreram e 1.740 estão feridas.
Segundo funcionários da ONU, os pesados ataques de anteontem deixaram 97 mortos e 200 feridos na cidade. Houve bombardeio e ataque de infantaria.
A ONU disse que os combates no rio Drina, que margeia a cidade, foram duros, mas que os sérvios não conseguiram avançar.
Apesar do ultimato, os bombardeios continuaram ontem.
Em Genebra, cerca de mil funcionários da ONU fizeram manifestação contra a "inação" da organização em várias partes do mundo em guerra. Carta de um funcionário em Gorazde lida na manifestação começava: "Saudações da cidade onde as únicas pessoas felizes são as mortas".

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