São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Como ensinar preconceitos

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O racismo é uma das grandes hipocrisias nacionais. Apesar de camuflado, persiste com toda força na sociedade brasileira o preconceito de que o negro é um ser inferior. Haveria um formidável jeito de reverter essa indecência: educar as crianças. Daí a importância da denúncia que a Folha publica hoje.
Uma comissão de especialistas, escolhida pelo Ministério da Educação, analisou os livros didáticos de estudos sociais –esse material, em tese, deveria estimular a cidadania. Os alunos deveriam aprender que todos são iguais em direitos, condição básica para a democracia. Triste ter de chegar na virada de um milênio e ficar repetindo essas obviedades. Paciência.
A conclusão dos especialistas é de que os livros, adotados na rede pública e por escolas particulares, reproduzem mecanicamente os preconceitos contra pobres, negros, mulheres, entre outras minorias. Alguns livros de história, por exemplo, repetem a asneira de que o índio era preguiçoso e, assim, avesso à escravidão. Por isso, escravizaram-se os povos africanos, como se houvesse alguém que menos apreciasse ou não apreciasse a liberdade.
Está certíssimo o Ministério da Educação em impedir a distribuição de livros incompatíveis com os direitos humanos. É um absurdo que o contribuinte pague por livros escolares que, em vez de promoverem a liberdade e o respeito aos grupos vulneráveis, estimulam preconceitos. O que, na prática, tem-se revertido em violência cotidiana.
Se alguém duvida, basta ver como os policiais tratam os negros, vistos sempre como suspeitos. Não precisa ir longe: basta ouvir também as cretinas piadas veiculadas na televisão nos programas de humor.
PS – Por falar em direitos humanos e a propósito da coluna publicada ontem, o deputado José Genoino classificou de "constrangedora" a declaração de Lula, elogiando Adolf Hitler. Considerou a frase "desastrada e infeliz", ressalvando que o presidente do PT evoluiu no conhecimento do mundo e jamais a repetiria. Sugere que Lula tenha a humildade de reconhecer o erro, o que "só vai engrandecê-lo". "Assim o mal é cortado pela raiz e evita explorações eleitorais", afirmou.

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