São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Novela conquista espectador para depois abandoná-lo

SÉRGIO DAVILA
DA REVISTA DA FOLHA

É uma lógica perversa. "A Viagem", nova novela das sete da Globo, segue a linha evolutiva de todas as outras na emissora. Oferece-se a iguaria nos capítulos iniciais; depois, tudo vira arroz com feijão. No final, uma sequência absurda de casamentos e vamos para a próxima.
Assim, os sete primeiros episódios de "A Viagem" esbanjam cenas externas. Várias câmeras, tomadas noturnas, recursos cinematográficos (como close na mão que aperta a campainha ou nas botas que pisam a lama). Fugas, perseguições.
Estreada a novela e firmado o Ibope –no caso de "A Viagem", os primeiros capítulos superaram em cinco pontos de audiência os últimos da antecessora, "Olho no Olho"–, os atores entram nos estúdios e de lá não saem mais.
A trama deixa de se desenrolar com imagens fortes e passa a ser discursiva. As ruas dão lugar à sala de visitas. O texto se sobrepõe ao visual –na televisão, isto é um crime.
Mal menor, se o texto ajudasse. Refilmagem da "Viagem" original de 1975, da mesma Ivani Ribeiro, a "Viagem" 94 já estreou pecando pelos chavões nos diálogos. Coisas como "Casamento é uma loteria", como disse Suzy Rêgo (com uma sobrancelha afinada esquisitíssima) logo nos primeiros capítulos, ou "Ele é uma bomba-relógio prestes a explodir", como disse Antonio Fagundes.
Ok, o peso do elenco é acima da média para uma produção das sete. Fagundes, um bom Guilherme Fontes no papel principal, Andréa Beltrão com a competência habitual, Christiane Torloni de volta.
Mas tem Maurício Mattar (cada vez mais parecido com Erik Estrada, o Poncherello do seriado "Chips"), canastra-mór. E Lucinha Lins, que atuando é feito purpurina.
Logo, logo, Guilherme Fontes deve morrer-mas-não-morrer –e a novela vira "espiritualista". Aguarde próxima crítica.

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