São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Amin cobra empenho de Maluf em SP

EUMANO SILVA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pré-candidato a presidente da República do PPR, o senador Esperidião Amin (SC), está cobrando "empenho" do prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, em sua campanha.
"O mínimo que podemos esperar é que o Maluf se empenhe", afirmou Amin. Para confirmar sua candidatura, ele exige que o PPR de São Paulo demonstre que vai trabalhar a fim de transferir para ele os votos que Maluf tem no Estado.
O primeiro passo dessa demonstração seria o lançamento de um candidato ao governo estadual, para que o partido tenha uma chapa completa. Segundo Amin, não é possível disputar o governo federal sem ter um palanque formado, porque o Estado possui o maior colégio eleitoral do país.
Em entrevista à Folha, Amin também criticou o PT. Na sua opinião, o partido se alimenta do corporativismo das estatais. Segundo o senador, quando o partido se funde ao sindicato e ao governo, chega-se ao fascismo.
Amin diz ainda que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pretende governar com "luas pretas" (assessores), porque não tem nenhuma experiência administrativa.
O provável candidato do PPR criticou a relutância do PSDB em firmar a aliança com o PFL: "Acho que boa parte do PSDB não quer ganhar a eleição". A seguir, leia os principais trechos da entrevista:

Folha - O que falta para o sr. decidir se é ou não candidato a presidente da República?
Senador Esperidião Amin - Falta o término da avaliação das diversas unidades da nossa Federação sobre uma candidatura própria. E é lógico que dentre todas as unidades da federação a avaliação mais importante a fazer ainda é a do quadro que o partido terá em São Paulo.
Folha - Há dentro do PPR o temor de que em São Paulo alguns setores do partido venham a apoiar o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) para a Presidência da República. Isso pesa na sua decisão?
Amin - É evidente que isso faz parte da avaliação. E há maneiras muito objetivas de se combater essa especulação.
Primeiro, tendo um candidato a presidente da República. Não tendo candidato, estamos admitindo que vamos apoiar um outro, em coligação branca ou expressa.
E também tendo um candidato a governador. Ou seja: ter o palanque estadual formado. Temores em política você não consegue combater com exorcismo. Você consegue combater com atitudes.
A candidatura própria a presidente da República teoricamente é até facultativa. Mas ter palanque em São Paulo não é facultativo, porque o tamanho do partido no Estado é inquestionável.
Folha - Qual a importância da opinião do prefeito Paulo Maluf no lançamento de sua candidatura a presidente?
Amin - O prefeito Paulo Maluf, que era o nosso candidato natural à Presidência, tomou uma decisão (desistir da candidatura).
Nós concordamos com essa atitude, mas ela causou um grande problema para todos nós e para o próprio partido.
Ao tomar uma atitude que desconcertou alguns amigos e todos os adversários, ele passou à condição de maior cabo eleitoral político do Brasil nesta eleição de 94.
Nós todos achamos que ele vai se valorizar como cabo eleitoral mostrando na prática que ele consegue traduzir em votos apoiando a candidatura do PPR.
Folha - O sr. então espera que o prefeito Maluf transfira para sua candidatura os votos que ele tem em São Paulo?
Amin - O mínimo que nós podemos esperar é que o Maluf se empenhe. Se vai transferir voto ou não, eu não sei, porque o dono do voto é o eleitor. É lógico que é preciso que o candidato também deve fazer força, faça campanha.
Folha - Se o senhor não for candidato e se o PPR não lançar candidato próprio, quais seriam as outras alternativas para o partido?
Amin - O partido tem três opções. A mais provável é lançar seu próprio candidato.
A hipótese de apoiar outro partido é remota. Não há articulação para apoiar Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. Ainda nem sabemos quem é o candidato do PMDB.
Eu pessoalmente tenho uma simpatia muito grande pelo Brizola, mas é simpatia pessoal. A terceira possibilidade é fazer como o PP e não apoiar ninguém.
Folha - Por que o sr. é candidato a presidente da República?
Amin - Ninguém deve se meter numa parada política sem poder responder para sua própria consciência três perguntas: por que ser candidato, para que ser candidato e o que fazer se perder a eleição.
Tenho três respostas que são convincentes para minha consciência. Posso ser candidato porque eu creio que o que eu aprendi até hoje aumentou o meu patriotismo.
Participar dessa eleição com as propostas que meu partido tem é não se omitir.
Para que ser presidente? Para liderar um processo de moralização, soerguimento do país.
E, finalmente, o que fazer se perder, é a mais confortável de todas as respostas. Se eu perder terei dado uma contribuição com o debate elevado, sem a busca da agressão pessoal.
Em compensação, se essa aparecer, também terei demonstrado que não tenho medo nem nada para esconder.
Folha - O sr. fala em moralização e liderança para resolver os problemas do país. Qual a diferença entre o seu discurso e o que Fernando Collor fez em sua campanha?
Amin - A grande diferença é que eu estou procurando solidariedade. A eleição de 1989 foi uma eleição lotérica, ninguém precisava de sócios.
Essa eleição é casada, é preciso ter palanques estaduais, sócios. Como presidente do partido, aprendi a ter tolerância e convivência, respeito. A grande virtude da nação brasileira é a tolerância.
Sou filho de imigrante por parte de pai e de mãe. Isso eu aprendi com meus pais. Neste país, se tu estiveres trabalhando, ninguém vai te interpelar de onde é que tu vieste.
Quando a gente vê países pequenos, em população e tamanho, se engalfinhando por questões de intolerância política, racial, religiosa, às vezes até folclórica, aí vemos que temos muito mais parido insucesso com nossa rebeldia, com a nossa incompetência, do que recebido fatalidades.
Folha – Dentro da aliança PSDB-PFL há uma expectativa de que o sr. faça o "trabalho sujo" contra Lula, permitindo que FHC não se desgaste enfrentando o candidato do PT. O senhor aceita?
Amin - Eu não tenho nenhuma objeção pessoal ao senador Fernando Henrique Cardoso.
Eu me considero seu amigo, vejo nele virtudes, e jamais permitiria que os meus colaboradores imaginassem que ele fosse se prestar a esse papel.
Eu gosto muito de mim para me prestar a um papel desses. E acredito que quem tenha dito isso a meu respeito não tenha sido autorizado por ele, muito menos induzido.
Folha - Quais são suas divergências com o PT?
Amin - São divergências frontais, mas são programáticas e nenhuma delas invade o campo pessoal. Eu me habituei a falar do pecado sem condenar o pecador.
Os grandes problemas do PT são a intolerância, intransigência, corporativismo e despreparo de algumas de suas lideranças para aquilo que eles pretendem assumir.
É o caso de Lula. Acho que ele tem grandes méritos como líder sindical, ele triunfou. Mas como administrador ele não oferece ao país nada em matéria de experiência.
O PT se socorre então do seu corpo de "luas pretas". Ninguém pode acusar o ex-prefeito de Porto Alegre Olívio Dutra de não ter experiência administrativa. Não estou dizendo que ele fez uma administração perfeita. A Erundina tem experiência administrativa.
Alguém que oferece a alternativa de ser monitorado por um time impregnado de corporativismo não é uma boa proposta para o país.
O PT quer se aproveitar pura e simplesmente do corporativismo das estatais para sobreviver, para arranjar dinheiro para a campanha.
O problema do corporativismo foi explicado por Mussolini. Quando você funde partido, corporação (sindicato) e governo você chega ao fascismo, e eu sou contra isso.
Folha - O sr. vê alguma virtude no PT?
Amin - A principal virtude do PT é que ele tem de ser entendido como o "sal da terra".
O PT ajuda, inclusive com a coerência de vida de alguns de seus militantes, a que a média da nossa indignação com a injustiça social aumente.
O PT é um alerta para um país em que a elite consegue conviver com um grau de desigualdade que a coloca em virtual estado de guerra social.
O país precisa de advertências, mas ser governado pelo mal ou pela advertência nunca é bom.
Folha - Como o PPR vai se defender na campanha das acusações do caso Paubrasil?
Amin - Nós não fizemos nenhuma obstrução à investigação desse caso, ao contrário da histeria com que o PT reagiu à CPI da CUT.
O caso Paubrasil é uma questão fiscal que está sendo exaustivamente investigada.
Mas se alguém achar que essa investigação não é suficiente, que proponha outra forma.
Folha - O que o sr. acha da resistência do PSDB à aliança com o PFL?
Amin - Acho que uma boa parte do PSDB não quer ganhar a eleição. O PFL é a aliança ideal para o PPR e para o PSDB. O fato de eu não ter conseguido a noiva pra mim não vai fazer com que eu fale mal da moça.
Foi tentado exaustivamente, mas não conseguimos. E o PSDB está tornando uma aliança útil politicamente num constrangimento. Imagine no governo como será.
Acho que eles estão administrando isso tão mal que a aliança pode se consolidar em Brasília, mas nos municípios, eu me permito a invocar o santo padroeiro do dia do meu nascimento, que é São Tomé, para conferir.
Folha - Se o ex-presidente José Sarney perder a prévia do PMDB, o sr. poderá ser o único dos candidatos a presidente que pertenceu à antiga Arena, identificada com o regime militar. Isso ajuda ou atrapalha a sua campanha?
Amin - Não sei se alguém vai tentar estabelecer uma distinção com isso. Mas eu, graças a Deus, assumo muito tranquilamente o meu histórico político. Eu nunca mudei de partido. Não sei quantos já mudaram.

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