São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Entenda as mudanças da "crise da meia-idade"

TEREZA CRISTINA GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entenda as mudanças da "crise dameia-idade"
A aposentadoria é, em tese, o tempo de realizar planos antes abandonados pela necessidade de trabalhar, mas nem sempre é isso que acontece. Muitas vezes as mudanças na vida do recém-aposentado levam a uma sensação de perda de capacidade.
Essas mudanças geralmente coincidem com a "crise da meia idade", que é definida não pela faixa etária, mas como um certo momento em que as pessoas reavaliam as escolhas feitas na sua vida.
No Brasil, as pessoas se aposentam por tempo de serviço. Como começam a trabalhar cedo e a expectativa de vida vem aumentando, quem se aposenta com 45-50 anos tem ainda uma média de 20 anos de vida pela frente.
"A crise não é positiva ou negativa em si. Pode ser uma época de transição que resulta em um grande desenvolvimento pessoal, mas se a pessoa quiser negar as transformações que ocorrem, pode ficar estagnada e infeliz", explica a psicóloga Suely de Almeida Martins, especialista em gerontologia.
A volta para casa depois da aposentadoria pode ser muito difícil. As mulheres que trabalharam fora podem querer "descontar o tempo perdido", se dedicando integralmente ao papel de mãe.
"Acontece que as 'crianças' cresceram. É comum ver as mães reclamando que eles não ligam para a comida que ela faz com tanto carinho e prefiram sanduíches. Ora, eles cresceram comendo sanduíches e não conseguem entender porque isso tem que mudar", explica a psicóloga.
Para os homens pode ser pior. Eles são considerados os "provedores" do lar. Todos seus referenciais de horário, amizades e lazer foram feitos em relação ao trabalho. É como se perdessem a própria identidade. "Alguns tentam até impor a disciplina que existia em seu trabalho dentro de casa, o que entra em choque com o desejo de filhos e esposa", diz Suely.
A solução é se preparar para as alterações inevitáveis refletindo sobre o assunto com antecedência. Pais e filhos devem falar abertamente –inclusive sobre possíveis mudanças no padrão de vida.
Dificuldades individuais e entre o casal não devem ser menosprezadas. Ajuda psicoterápica pode ser benéfica. Especialistas devem ser consultados na questão do envelhecimento.
"Existem muitos mitos. O homem que não consegue ter relações sexuais com a esposa pode pensar que está impotente. A mulher não fala do assunto por constrangimento e a vida sexual do casal pode acabar sem necessidade", explica a psicóloga.
Para Suely, essa pode ser a melhor fase da vida. As escolhas são mais livres das imposições sociais. É preciso fazer um projeto para ver novas possibilidades de aprendizado, ocupações e relacões afetivas.

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