São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Santos incorpora o espírito de Serginho

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E foi realmente uma rodada de fogo. No sábado, o Palmeiras não conseguiu escapar de um empate com o Novo Horizontino, embora tivesse colocado em campo todo o seu vasto e poderoso arsenal. Não jogou nada, mas conseguiu voltar com um ponto de lá, graças a um dos tantos pênaltis convertidos por Evair que têm salvo o Palestra neste campeonato.
Mas foi ontem que a roda pegou. Enquanto o São Paulo, surpreendentemente, goleava o América lá em Rio Preto, o Corinthians desabava diante de um Santos que parece ter incorporado o espírito campeão de seu treinador, Serginho. Sim, porque Serginho, quando jogador, era daqueles goleadores imprevisíveis, capaz de pegar uma bola no meio de campo e começar uma arrancada que terminava em virada inacreditável. Foi o que aconteceu ontem: meia hora de jogo e o Corinthians estava com a vitória configurada –2 a 0. Findo o primeiro tempo, 3 a 2 para o Santos.
Depois, bastava confiar em Edinho e na estrela do goleador Guga, que nem a raça de Casagrande haveria de tirar do Santos o prazer da vitória. Uma vitória santista, que, somada aos outros resultados, significa que, mais uma vez, abriram as portas para o tricolor seguir a escrita.

A cada rodada, mais me encanta o futebol alemão: objetivo, claro, consequente, incansável, mas com um toque de fantasia individual e coletiva que serve para quebrar a cara de quem o considera carente de cintura. Para os alemães, o jogo tem 90min, rigorosamente. Nem mais, nem menos. A um segundo do final, tudo pode acontecer. Não é para menos que o Nuremberg, por exemplo, que está na rabeira do campeonato, mantém uma média de 33 mil espectadores por jogo.
Não é à toa que eles são tri como nós. E, se nós lamentamos os títulos de 50 e 82 perdidos, eles também têm o direito de chorar 66, garfados que foram na Inglaterra, 70 (eram melhores que os italianos que cruzaram conosco na final) e 86, ganho pelo gênio absoluto de Maradona.
Tivessemos aqui um jogador do nível de Matthaeus e a Copa estaria no papo, com todos os equívocos de Parreira, Teixeira e Cia.
Aliás, por falar em Matthaeus, caio no meio do nosso grande dilema, o setor de armação. Desde o limiar dos anos 70, os alemães perceberam que o meio-campo, centro nervoso de qualquer equipe, deveria ser evitado como o diabo da cruz. Por isso, Beckenbauer, que era médio volante, ou centro-médio, como queiram, virou líbero. Lá de trás, ele teria suficiente visão de jogo e liberdade para armar seu time e infiltrar-se para as jogadas agudas com muito mais eficiência do que ficar engolfado num meio-campo coalhado de cabeças-de-bagre.
O Kaiser pegou o Bayern lá embaixo, fixou Matthaeus de líbero e está a um palmo do título.
E nós, o que buscamos? Alguém pra substituir um Raí idealizado.
Quem não aprende não faz.

Esse Hollyfield nunca me enganou. Com o físico de halterofilista e o queixo de uma dama, foi longe demais. E o pior: Moorer é tão medíocre quanto Riddick Bower ou qualquer outro aspirante ao título. O que tem algo mais está na prisão, como fizeram com Clay-Ali, trinta anos atrás. O que essa gente tá querendo?

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