São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Chargista francês expõe desenhos no MIS

ANDRÉ LAHÓZ

Plantu participa hoje de debate e mostra seus trabalhos publicados no jornal "Le Monde" desde os anos 70

Jean Plantureux, 33, conhecido como Plantu, chegou anteontem a São Paulo. Ele é chargista do jornal "Le Monde" desde 1972.
Plantu está no Brasil para acompanhar a mostra simultânea de seus trabalhos em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, promovida pelo Consulado Geral da França.
Hoje às 20h, Plantu participa do debate "Imagem e Texto", promovido pela Folha, ao lado do chargista Angeli, de Didiana Prata, editora de arte da Folha e de Décio Pignatari, professor de semiótica e comunicação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
A Folha distribui hoje, a partir das 9h, cem convites aos interessados em participar do debate, que poderão retirá-los na portaria do jornal, à al. Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos. O debate será no MIS (av. Europa, 158, Jardins, zona sul).
Após o debate, às 21h30, a exposição com desenhos e ilustrações de Plantu será inaugurada no MIS. Antes de embarcar para o Brasil, o chargista concedeu a seguinte entrevista à Folha.

Folha - Você trabalha no "Le Monde" há mais de 20 anos. Como é ter a obrigação de todo dia fazer um desenho?
Jean Plantu - Sem dúvida é uma pressão, mas é algo interessante. É uma coisa louca. Considero como um jogo diário.
É como se eu estivesse diante de uma falésia com alguém me empurrando pelas costas. Às vezes eu digo: "Assim não é possível".
E muitas vezes não é mesmo. Não é todo o dia que os desenhos saem bons. Mas eu gosto muito de meu trabalho porque amo o desenho e a política.
Acho a política apaixonante. Como não sei escrever e também não falo muito bem, uso desenhos para transmitir os meus recados.
Folha - Falando em política, prefere desenhar a política francesa ou a política exterior?
Plantu - Prefiro a política exterior. São desenhos que têm uma vida mais longa.
No caso de política francesa, muitas vezes três dias após a publicação o desenho já perdeu o sentido. Isso também pode ocorrer com a política exterior, mas é mais difícil.
Um desenho sobre a África do Sul, por exemplo, pode continuar a fazer sentido após meses ou mesmo anos. Isso é quase impossível no caso de política interna.
Folha - Quais são suas fontes?
Plantu - Basicamente os jornais. Quando não estou no país, ouço a rádio França Internacional.
Após os jornais, acabo tendo algumas idéias. Então as discuto com o redator-chefe do "Le Monde" e, às vezes, acabo escolhendo uma das opções. Outras vezes, quem decide é ele.
Também converso com o jornalista que está escrevendo algo sobre o que vou desenhar. Então, faço uns três ou quatro esboços para que o jornal escolha.
Folha - Há algum tipo de censura no jornal?
Plantu - Não há censura. Há uma relação de confiança construída ao longo de mais de 20 anos. Nos entendemos muito bem, e as idéias políticas que proponho sempre são aceitas.
Mas há um limite que eu conheço. Por exemplo, se para ilustrar o domínio norte-americano na América Latina eu desenhar o Clinton com uma mulher, representando a América Latina, em uma cama, isso certamente não passará.
Mas não considero que seja censura, e sim respeito aos leitores. O meu objetivo não é perturbar ninguém, e certamente eu encontrarei outra forma para passar a mesma mensagem.
Folha - Há alguém que você goste ou não especialmente de desenhar?
Plantu - Sou totalmente dependente da realidade. Eu escolho os personagens pelos fatos e não pela preferência pessoal.
Se o assunto mais interessante do dia envolve o presidente Clinton, então desenharei Clinton, quer queira, quer não.
Eu me considero artista e jornalista. Não sou daqueles desenhistas que fazem obras perfeitas tecnicamente, meu trabalho como artista está inteiramente ligado ao meu trabalho de jornalista.
Folha - Seu desenho mudou muito ao longo dos anos?
Plantu - Sim. Isso ficará claro para quem for à minha exposição, pois irei mostrar desenhos da década de 70, como os que fiz criticando o golpe militar no Brasil.
Folha - Faz algum outro trabalho além do "Le Monde"?
Plantu - Sim, desenho uma vez por semana para a revista "L'Express".
Há pouco tempo eu fiz uma coisa muito legal. Pedi ao Yasser Arafat para desenhar a bandeira de Israel. Quando o desenho estava pronto, pedi a ele que assinasse. Então, fui a Israel e pedi a Simon Peres para assinar também o desenho. Isso foi em 91 e 92, portanto um ano antes do acordo de paz assinado em Washington.
Folha - Conhece algo do trabalho de cartunistas brasileiros?
Plantu - Conheço o Chico muito bem e adoro seu trabalho. Conheço um pouco de mais alguns, mas não muito. O suficiente para saber que o Brasil tem um nível muito alto de desenhistas.

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