São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Sérvios começam retirada de Gorazde

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As forças sérvias interromperam ontem seus ataques ao encrave muçulmano de Gorazde (Bósnia oriental) e se retiraram para 3 km do centro da cidade.
O cessar-fogo e a retirada eram exigências de um ultimato da Otan, a aliança militar ocidental, fixado para as 21h01 (hora de Brasília) de sábado.
"Não há armas pesadas nem tanques visíveis a 3 km do centro de Gorazde", disse em Zagreb (capital da Croácia) o enviado especial da ONU, Yasushi Akashi.
O ultimato da Otan inclui uma terceira exigência, a ser cumprida até a noite de quarta-feira: os sérvios devem retirar armas pesadas a um raio de 20 km de Gorazde.
Segundo Akashi, o comandante das Forças de Proteção da ONU na Bósnia, Michael Rose, informou "uma contínua melhora da situação em torno de Gorazde".
Um comboio de ajuda humanitária da ONU foi autorizado a entrar no encrave muçulmano depois de horas de espera na fronteira com a Sérvia.
Equipes médicas retiraram pelo menos 43 civis gravemente feridos da cidade. Eles foram levados para Sarajevo, capital da Bósnia.
"Picka in Materina (filho da puta)", disse a um capacete azul (soldado de forças de paz da ONU) um refugiado ao ser resgatado em helicóptero.
Gorazde vem sendo bombardeada por sérvios da Bósnia há três semanas. Os habitantes se sentem abandonados pela Europa, pela ONU e pelo resto do mundo.
Segundo o Alto Comissariado para Refugiados da ONU, 21 pessoas morreram e 53 ficaram feridas por ataques sérvios só no sábado.
A ONU também informou que 30% dos 1.987 feridos graves em Gorazde precisam de ajuda urgente e devem ser evacuados. Nos hospitais de Sarajevo só há 750 leitos.
Um oficial graduado disse que soldados sérvios explodiram a estação de tratamento de água da cidade antes da retirada.
O secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, admitiu em Londres que "o que houve em Gorazde foi falha da ONU e, mais do que isso, foi uma humilhação".
Nos últimos 25 dias, os sérvios desrespeitaram uma série de acordos de cessar-fogo que haviam antes acertado.
Depois de ser retirada de Gorazde, uma refugiada disse que havia ontem "cadáveres nas casas, nas ruas, em todo lugar".

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