São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quarteto australiano toca 'ingênuos'

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Concerto: Australian String Quartet
Músicos: William Henessy e Elinor Lea (violinos), Keith Crellin (viola) e Janis Laurs (violoncelo)
Quando: Hoje e amanhã às 20h30
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo s/nº, tel. 011/222-8698, região central)
Programa: "Quarteto em Fá Menor Op. 20 nº5", de Haydn, "Quarteto nº2", de Carl Vine, e "Quarteto em Mi Menor Op. 59", de Beethoven (hoje); "Quarteto nº9", de Sculthorpe, "Quarteto nº2 'Cartas Íntimas' ", de Janácek , e "Quarteto em Sol Maior D. 887", de Schubert (amanhã)
Quanto: de CR$ 10 mil (anfiteatro) a CR$ 38 mil (camarote, frisa e platéia)

O Australian String Quartet se apresenta hoje e amanhã no Teatro Municipal. Com nove anos de atividade, esta é a primeira vez que o grupo vem à América do Sul.
"Só não viemos antes porque não tínhamos sido convidados", brinca o violinista William Henessy, líder e fundador do grupo. "Quatro meses da nossa agenda são dedicados às turnês internacionais justamente porque vivemos num país isolado".
O ASQ abre a temporada internacional do Mozarteum Brasileiro. Foi formado por músicos residentes do Conservatório Musical de Adelaide (cidade ao sul da Austrália com cerca de 1 milhão de habitantes). Já tem três CDs lançados pelo selo australiano ABC. É um dos dois quartetos de tempo integral da Austrália e recebe subvenção estatal.
Henessy conta que a obrigação do grupo é divulgar os compositores locais. "Esses autores refletem o clima nacionalista e de certa forma ingênuo do nosso país. Ainda obedecemos à rainha da Inglaterra. Lutamos para nos tornarmos uma república autônoma no século 21. Somos um país jovem em que os músicos pensam mais em pesquisar a música não-européia do que compor ou tocar à maneira alemã".
As frequentes turnês do grupo nos EUA e Europa lhe deram alta reputação. Acaba de assinar contrato com o selo Marco Polo de Hong Kong para lançar os 17 quartetos do australiano pós-romântico Frank Hill. O primeiro CD da série sai até o fim do ano.
"Nossa diferença está menos na divulgação dos australianos do que no fato de tocarmos de modo descontraído, sem a rigidez dos americanos", analisa Henessy. "Somos mais austríacos".
O programa, de fato, não dá vez à melancolia romântica. O ASQ toca peças dos compositores australianos atuais Carl Vine e Sculthorpe, do moderno tcheco Leos Janácek (1854-1928) e dos clássicos Ludwig van Beethoven (1770-1827), alemão, e Franz Schubert (1797-1828), austríaco.
Henessy se diz universalista. Dono de um instrumento Guadagnini datado de 1751 e com experiência de três anos na orquestra da Academia de St. Martin-in-the Fields, de Londres, além de alguns meses como "spalla" da exótica Orquestra Sinfônica da Tasmânia, ele não dá preferência a estilos.
"Temos 70 partituras no nosso repertório", diz. "Não seguimos estilos de época, mesmo porque estes ficam muito relativizados no âmbito do quarteto de cordas, que tem história específica".
Acha que a peça de Vine agrada qualquer ouvido por se tratar de uma obra tonal com sabor minimalista –estilo baseado na repetição.
Nos planos do grupo está lançar até 1995 dois CDs pelo selo ABC com obras de Sculthorpe e Vine e, até 1998, registrar a integral dos quartetos de Beethoven. "Beethoven é uma obra muito gravada, mas nunca suficientemente", alonga-se o violinista. "Não há quarteto perfeito no mundo que consiga dar conta dela. A partitura sempre está exigindo algo e sempre deixamos a desejar".

Texto Anterior: Entrada fica no terceiro andar
Próximo Texto: Greenpeace inaugura era do CD ecológico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.