São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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Cunningham traz nova coreografia a SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo será a terceira cidade no mundo, depois de Bruxelas e Amsterdã, onde o coreógrafo norte-americano Merce Cunningham estreará sua obra mais recente.
Trata-se de "Ocean", realizada a partir da última peça musical feita para dança por John Cage (1912-1992) que, por sua vez, se inspirou em um texto de James Joyce.
"Estamos muito entusiasmados com a temporada em São Paulo porque é o único lugar, até agora, que oferece condições de realizar 'Ocean' da forma mais fiel possível aos conceitos originais de Cage", afirmou à Folha Art Bekofsky, diretor-executivo da Fundação Cunningham (situada em Nova York).
Bekofsky esteve em São Paulo no final da semana passada, junto com Aaron Copp, diretor técnico da Merce Cunningham Dance Company, para avaliar as condições do local onde "Ocean" será apresentada: o ginásio do Clube Athlético Paulistano, dias 19, 20 e 21 de agosto.
"Segundo Cage, 'Ocean' deveria ser apresentada em um espaço redondo, com bailarinos dançando no centro, em volta do qual ficariam o público e a orquestra", explica Copp, que achou muito bom o ginásio do Clube Paulistano.
Com capacidade para 2.000 pessoas, o ginásio foi projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que foi premiado pela obra na 6ª Bienal Internacional de São Paulo.
Por falta de local adequado, "Ocean" não será apresentada no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, em julho, como estava planejado.
Com isso, "Ocean" antecede o Festival de Música Nova, que começa em São Paulo logo após as performances da Merce Cunningham Dance Company.
Os três eventos –"Ocean" e os festivais de Campos do Jordão e de Música Nova– estão sendo organizados pela Secretaria de Estado da Cultura.
O fato de a secretaria estar investindo na quantidade de músicos bolsistas que participarão do Festival de Campos de Jordão deste ano também contribui para a realização de "Ocean".
Ricardo Ohtake, secretário da Cultura, informa que o Festival de Campos, que comemora seus 25 anos, receberá 625 bolsistas. Desse total serão escolhidos 112, número exigido para a orquestra que acompanhará "Ocean".
"Essa é mais uma razão para 'Ocean' acontecer em condições ideais", afirma Bekofsky, acrescentando que Cage deixou instruções muito claras sobre a obra.
"Cage preferia que 'Ocean' não fosse executada por músicos profissionais, mas por estudantes, que estariam mais livres de idéias pré-concebidas para abordar sua música."
Além dos 112 músicos brasileiros, encarregados da parte orquestral, a partitura de "Ocean" inclui música eletrônica, que será interpretada pelos músicos da Merce Cunningham Dance Company .
Para realizar a temporada de "Ocean" em São Paulo, a Secretaria de Estado da Cultura está investindo US$ 80 mil. Último revolucionário vivo da dança moderna, Cunningham completou 75 anos no último dia 16 de abril.
Nesta data, a TV americana exibiu, em rede nacional, um filme sobre a vida e obra de Cunningham. Com John Cage, ele introduziu inovações radicais na dança e música deste século.

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