São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Mônaco viu o futuro

THALES DE MENEZES

O Aberto de Mônaco registrou no último fim-de-semana duas semifinais bem distintas. Talvez o público não saiba, mas uma delas aponta para o futuro do tênis.
Um dos jogos, o menos interessante, reuniu o sueco Stefan Edberg, ex-número 1 que já perdeu a gana de grande campeão, e o espanhol Sergi Bruguera, que só vai bem em quadras de terra.
Na outra partida das semifinais, dois moleques trocaram raquetadas furiosas. Andrei Medvedev e Yevgeny Kafelnikov começaram aquele que tem tudo para ser o grande duelo dos anos 90.
Medvedev venceu por 7/6 e 6/3 e depois derrotou na partida final Bruguera, campeão do ano passado. Foi o primeiro título de Medvedev depois de ficar fora de combate por quase três meses, machucado no joelho.
Aos 19 anos, esse ucraniano ingressou nos "top ten" em 93 e faz parte do restrito grupo de jogadores de saque forte que se dão bem também nas quadras lentas.
Com o título em Mônaco, o sétimo em sua carreira de dois anos como profissional, Medvedev é o nº 8 do ranking mundial. É pouco para ele. Antes de machucar o joelho na Austrália em janeiro, chegou a ser o nº 6.
Subir mais é questão de tempo. É menos eficiente do que Sampras, mas eficiência vem com o treino. Talento, não. Alguns nascem com ele. Como Medvedev.
Ontem, o ucraniano perdeu para Marcos Ondruska em Munique, no tie-break do terceiro set. Quando conseguir serenar seu ímpeto adolescente, tropeços como esse serão cada vez mais raros.
Medvedev nunca terá a regularidade de um Lendl ou um Edberg em suas grandes fases. O garoto está mais para um McEnroe. É do tipo que prefere arriscar uma jogada inusitada para empolgar o público, mesmo que perca o ponto.
Além disso, fora das quadras Medvedev é muito mais divertido do que seus colegas. Por duas vezes, encontrei o ucraniano em situações cômicas.
Em Wimbledon, Medvedev foi comprar morangos para a namorada, a bonitinha Anke Huber, alemã que também é "top ten". Sem dinheiro, convenceu um sujeito a pagar seu pote de morangos em troca de um autógrafo.
No US Open, foi brincar numa gangorra com Sacha, 2 anos, filho de seu treinador, e perdeu a hora. Enquanto Medvedev se divertia, o holandês Richard Krajicek esperava para enfrentá-lo na quadra 1. Chegou 15 minutos atrasado.
Politicamente incorreto, Medvedev não mede palavras. Diz que o público americano é burro, que Wimbledon é um torneio chato e que o tênis feminino "dá sono".
Mais comedido no que fala, o russo Kafelnikov, de 20 anos, é a revelação do ano. Subiu mais de 150 posições no ranking da ATP nos últimos nove meses.
Na lista divulgada esta semana, aparece em 27º lugar. Com certeza, será atração do Roland Garros em maio, já que conquistou dois títulos em saibro este ano.
Em Mônaco, bateu "apenas" Andre Agassi e Michael Stich. São seus maiores feitos, além da brilhante atuação contra a Austrália na primeira rodada da Copa Davis.
Vice-campeões do ano passado, os australianos foram surpeeendidos com a eliminação diante da Rússia. Kafelnikov venceu seus dois jogos de simples, contra Patrick Rafter e Jamie Morgan, e ajudou a obter o terceiro ponto na partida de duplas.
Qualquer um que arrisque previsões pode queimar a língua. Mas Medvedev e Kafelnikov são os melhores palpites no páreo que decide quem vai tirar o lugar de Sampras do topo do ranking.

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