São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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Bancos evitam emprestar para empresas

DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos pararam com as operações de crédito para empresas e estão renegociando o recebimento dos empréstimos concedidos.
A principal razão da medida é o medo de não receber o dinheiro de volta por causa da inflação, agora, e da recessão, depois do real.
"Quanto maior o volume de dinheiro do investidor, maior o problema de encontrar uma aplicação para ele", explica Antônio Pavão, diretor do Bradesco.
O interesse dos bancos é se resguardar, permanecendo com o dinheiro captado da clientela em aplicações de curto prazo no próprio mercado financeiro.
A elevação da inflação aumenta o risco de inadimplência.
"Que atividade produtiva pode devolver o dinheiro com correção inflacionária de 43%, mais juros?", questiona Alcides Lopes Tápias, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
É por essa razão que o volume de empréstimos não passa de US$ 45 bilhões, duas vezes o patrimônio dos bancos. Pela regra, o banco poderia emprestar até 15 vezes o seu patrimônio.
Para Roberto Barreto, vice-presidente do Econômico, os bancos querem manter a liquidez diária para seus recursos antes do real.
"Já há 15 dias evitamos o crédito e também procuramos receber juros e um pouco do principal dos títulos que vencem", acrescenta.
Continua na cabeça dos banqueiros o que aconteceu depois do Cruzado. Com a queda da inflação, as empresas se endividaram.
Quando a inflação voltou, seguiu-se forte inadimplência.
Cristoph Beckedorff, diretor de crédito da Febraban, lembra que, na Argentina, houve crescimento do crédito e posterior inadimplência devido aos juros e à recessão.
"A boa política hoje é ser cuidadoso no crédito", diz Alcides Amaral, vice-presidente do Citibank. E lembra: a maioria das empresas saudáveis evita empréstimo.
A lista de explicações é extensa. Segundo os banqueiros, poderá haver contingenciamento de crédito após o real, interrompendo o fluxo de recursos do sistema.
Com juro alto e restrição ao crédito, os bancos temem pela recessão, queda de consumo e perda de capacidade de pagamento.
"Os bancos estão cobrando juros mais altos justamente para evitar o crédito neste momento", afirma Carlos Fagundes, diretor financeiro do Itamarati.

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