São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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Tizuka se vinga de "Amazônia" com "A Madona de Cedro"

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Tizuka se vinga de "Amazônia"com "A Madona de Cedro"
Começou bem. O primeiro capítulo de "A Madona de Cedro", que a Rede Globo apresentou anteontem, marca a volta de Tizuka Yamazaki à sua melhor fase, depois da responsabilidade que lhe imputaram pelo fracasso de "Amazônia" na Rede Manchete.
A adaptação de Walter Negrão para o romance de Antonio Callado compreende que a força da TV está, sobretudo, nas imagens.
Negrão cria diálogos enxutos, levantando a bola para Tizuka, que foge do esteticismo bobo para fazer das imagens a principal fonte de informações dos conflitos narrados.
À história: Delfino (Edu Moscovis) é um rapaz religioso, temente a Deus, habitante da pequena Congonhas, em Minas Gerais, cidade carregada de religiosidade opressiva, regulada pelo olhar severo das figuras de Aleijadinho.
Tizuka aproveita bem a expressividade e o retorcimento dos profetas de Congonhas, apontando para o céu, para dar mais vigor à repressão do protagonista.
O que também é comunicado ao espectador nas ambientações sufocantes, repletas de velharias e penumbras, alcovas e alçapões das igrejas e casarões de Congonhas.
Paralelamente, no Rio de Janeiro, Villanova (Carlos Vereza), um traficante de obras de arte, se empenha em roubar uma Madona de Aleijadinho. Seu funcionário Maneco (Humberto Martins), vai a Congonhas cooptar Delfino.
Delfino é levado para o Rio por Maneco (Humberto Martins). A idéia é convertê-lo à corrupção e transformá-lo em sucursal do tráfico de obras nas cidades históricas.
No Rio, Delfino avista pela primeira vez o mar. Seu horizonte, antes limitado pelas pesadas montanhas mineiras, ganha a amplitude do horizonte oceânico. As imagens produzidas por Tizuka informam com sutileza esse "desvirginamento" de Delfino.
O alargamento de horizontes do personagem é sugerido por uma cena simples, em que Delfino vai à janela do apartamento em que se instala e avista, por entre os prédios, o mar e o horizonte ao longe.
A Madona de Cedro, a imagem do passado religioso de Delfino, ganha seu contraponto no Rio.
Entra na história Marta (Andréa Beltrão), que Delfino conhece depois de quase se afogar no mar de Copacabana. O afogamento é mostrado em imagens silenciosas, que sugerem o rito de passagem de Delfino.
A passagem da figura da santa para a mulher –conflito interno de Delfino– é informada por uma simples fusão das imagens da Madona de Aleijadinho, em Congonhas, com o rosto de Andréa Beltrão, no Rio de Janeiro.
Há exageros na interpretação de Carlos Vereza para Villanova, vilão demais. Ou na caracterização de Emerenciana (Yara Côrtes), que o telespectador sabe ser uma carola fofoqueira pelo coque.
Mas só o fato de "A Madona de Cedro" privilegiar as imagens para apresentar um conflito complexo como o vivido por Delfino já é sinal de que as coisas estão tomando o rumo certo.

Minissérie: A Madona de Cedro
De: Antonio Callado
Direção: Tizuka Yamasaki
Adaptação: Walter Negrão
Quando: de terça a sexta, às 22h30; até sexta, dia 6 de maio
Emissora: Rede Globo

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