São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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O PT e o aborto

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO – O PT pode ser criticado por muitas razões. Abriga em suas fileiras um punhado de tendências de posições francamente inconciliáveis. Mantém uma "Weltanschauung" que pode ser classificada no mínimo como ultrapassada. Busca um socialismo que não sabe bem definir. Tem um pé bem fincado no corporativismo.
Ainda assim, o partido é um dos poucos que vem trazendo teses e idéias em vez de apenas impropérios e promessas para o debate eleitoral. De fato, se confirmada a tendência do Encontro Nacional –que vai definir neste fim-de- semana o programa de governo da legenda– de tratar da descriminalização do aborto e do "casamento" homossexual, então a agremiação terá dado uma notável mostra de responsabilidade social.
A questão do aborto já deixou há muito de ser uma bizantina discussão semântica sobre quando começa a vida para tornar-se um problema de saúde pública. Seres humanos fazem sexo, muitas vezes sem as devidas cautelas, e as mulheres acabam engravidando sem desejá-lo. Tentam o aborto.
Quem tem dinheiro vai a uma boa clínica e sai de lá sem maiores problemas físicos –os psicológicos são inevitáveis. As mais pobres –ou seja, a maioria da população– visitam um açougueiro ou tentam métodos caseiros. As consequências são terríveis, resultando muitas vezes em morte. Os custos para o tratamento das sequelas nos hospitais públicos também são elevados.
Embora seja um problema social menos urgente e mais restrito, o reconhecimento de direitos previdenciários e sucessórios para casais homossexuais também seria uma medida correta. Afinal, direitos da cidadania não se definem em função da orientação sexual.
De qualquer forma, trazer esses importantes temas para o debate nacional é uma atitude louvável, sobretudo quando se considera que eles não têm caráter eleiçoeiro, muito pelo contrário. A mais recente pesquisa Datafolha (publicada em 24/10/93) revela que 65% dos brasileiros são contra a legalização do aborto. O que não pensariam sobre o "casamento" homossexual?

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