São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Parreira, dê liberdade aos nossos craques!

ABRAM SZAJMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Poucas coisas na vida podem ser comparadas à alegria de ver o nosso time sair ovacionado de campo depois de uma brilhante vitória.
No meu caso isso ocorre duas vezes: quando o vitorioso é o Corinthians e quando é a seleção brasileira de futebol.
Aprecio outros esportes, porém meu coração vibra mesmo é com o futebol, ou melhor, com o Viola, o Marcelinho ou o Tupãzinho fazendo balançar a rede do time adversário.
Igual prazer e emoção sinto com as vitórias do time brasileiro. Não se apaga de minha memória a brilhante jogada de Pelé na área do País de Gales e o chute perfeito a gol, garantindo o Brasil nas semifinais da Copa da Suécia.
Ou o passe displicente de Pelé para Carlos Alberto cravar os 4 a 1 da vitória contra a Itália, no tri do México.
Igual aos demais brasileiros, preocupo-me coma formação da nossa seleção para a Copa dos Estados Unidos. Se tivesse acesso ao Parreira, far-lhe-ia uma recomendação: deixe os nossos craques jogar com liberdade e para a frente.
O futebol brasileiro é naturalmente ofensivo. Os times brasileiros de maior projeção jogam no ataque. O Campeonato Paulista está sendo um sucesso porque todos os times procuram a vitória. Os times do interior, mesmo na capital, vão ao ataque.
O meu Corinthians perdeu do Santos de 4 a 3 porque Edinho, da dinastia Pelé, transformou-se numa barreira quase intransponível. Defendeu até bolas indefensáveis. O Corinthians perdeu, mas seus jogadores saíram de campo altivos. Lutaram. Em nenhum momento tremeram ou tiveram medo do adversário.
O brasileiro vai esquecer eleições, URV, Real e unir-se para aplaudir a seleção nos Estados Unidos. Impulsionados por essa megatorcida, os jogadores não vão sentir as chuteiras pesarem nos pés.
Parreira, deixe-os livres. Nada de esquemas complicados, inibidores da criatividade. O bom driblador deve ter liberdade para driblar, o homem da defesa tem o direito de partir para a área adversária quando sentir que as condições são favoráveis. Não foi o que fez o Nilton Santos na Suécia? E também o Carlos Alberto e o Clodoaldo no México?
A burocracia é o grande mal deste país. É a responsável pelos índices baixos de nosso desempenho econômico. Por que levá-la à seleção brasileira de futebol?
O futebol é coisa séria. Não existe nada de tão valioso para a imagem do Brasil lá fora quanto o futebol. Por que desperdiçar esse capital? Qual o brasileiro, de qualquer ramo de atividade, mais conhecido que o Pelé fora de nossas fronteiras? Não existe.
É uma pena que políticos e empresários não se tenham dado conta ainda da importância vital para a promoção do Brasil que tem o futebol. Na Copa dos Estados Unidos vão ganhar dinheiro, além dos jogadores.
Nossas companhias aéreas, agentes de turismo, emissoras de rádio e televisão. É muito pouco diante do universo empresarial que poderia contabilizar lucros com cada gol de nossa seleção. Desconheço iniciativas para promover produtos brasileiros ou o turismo brasileiro nesta Copa.
O calendário do esporte mundial é bem organizado e de conhecimento de todos. A próxima Copa será na França. É hora de pesquisar como aproveitá-la em proveito do incremento de muitos negócios do Brasil, tirando proveito da presença, na França, de nosso melhor produto, o futebol. E Deus queira, com a faixa de tetracampeão mundial.

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