São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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'A Família Buscapé' cria a platéia caipira

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: A Família Buscapé
Direção: Penelope Spheeris
Elenco: Lily Tomlin, Cloris Leachman e Jim Varney
Salas: Ipiranga 2, Astor, Top Cine e circuito

É muito provável que "A Família Buscapé" (The Beverly Hillbillies) não seja o pior filme do mundo, o que não o exclui da competição para o título.
Há uma diferença entre um filme sobre caipiras, um filme caipira e um filme para caipiras. "A Família Buscapé" é uma combinação dos três, com ênfase nos dois últimos.
Criada para TV por Paul Henning nos anos 60 (um dos maiores índices de audiência dos EUA), a história de uma família de caipiras que sai das montanhas de Arkansas (terra de Bill Clinton) para viver numa mansão em Beverly Hills (Los Angeles) após descobrirem petróleo em seu rancho ganhou uma nova dimensão ao ser transportada para os anos 90.
A diretora Penelope Spheeris ganhou notoriedade entre os estúdios ao dirigir a comédia "Quanto Mais Idiota Melhor", com Myke Myers e Dana Carvey. Sua adaptação de "A Família Buscapé" para Hollywood teria que passar inevitavelmente pela ótica de seu filme precedente.
Se na série de televisão a história tinha um tom mais ingênuo, a reciclagem para os anos 90 fez com que a grosseria simpática dos personagens perdesse muito em simpatia para ganhar em idiotia.
Não é mais a idiotia dos personagens caricatos que impera, mas do roteiro e das piadas. O que poderia beirar o humor negro no tocante ao poder do dinheiro numa sociedade como a americana se dilui em lugares-comuns, piadinhas e caretas esperadas e forçadas.
Nenhum esforço é suficiente. "A Família Buscapé" é como alguém contando piadas num velório. O constrangimento é de quem assiste. É difícil não se sentir também um pouco caipira ao sair do cinema.

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