São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Espião confessa e pega prisão perpétua

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O mais grave caso de espionagem da história dos EUA terminou ontem com a condenação, sem julgamento, de Aldrich Hazen Ames à prisão perpétua.
Ames, 52, chefe do grupo de contra-inteligência da CIA para a União Soviética de 1983 a 1985, se declarou culpado da acusação de espionar para Moscou.
O governo dos EUA e Ames fizeram um acordo pelo qual ele vai relatar os detalhes da ação de espionagem em troca de pena reduzida para sua mulher.
Rosario Ames, 41, natural da Colômbia, também se declarou culpada. Sua pena será fixada em 26 de agosto e será no máximo de seis anos de prisão.
Se tiver bom comportamento, Rosario poderá ser solta depois de quatro anos para cuidar do filho do casal, de 5 anos, que vive na Colômbia com os avós.
Redes reveladas
Ames confessou ter recebido US$ 2,5 milhões de Moscou em troca de revelar as identidades de onze agentes soviéticos que espionavam para os EUA.
Destes, pelo menos quatro foram executados. Ames expressou sua "mais profunda simpatia" pelos que "possam ter sofrido" pelas suas ações.
Mas o depoimento de oito páginas lido por ele na corte de Alexandria, imediações de Washington, teve momentos de desafio.
Ele acusou o governo de ter exagerado nas acusações contra sua mulher e sugeriu que a CIA e outros serviços de inteligência jogam dinheiro fora para obter informações de valor mínimo.
'Vergonha'
Embora tenha manifestado "profunda vergonha" pelo que fez, Ames afirmou que nenhum dano "notável" para os EUA resultou de sua espionagem.
Segundo sua confissão, a traição foi movida "pelo mais básico dos motivos: necessidade de dinheiro para pagar dívidas".
O acordo de ontem prevê que todos os bens dos Ames passem para o governo dos EUA, bem como qualquer dinheiro que venham a fazer com a venda dos direitos de sua história para livros, filmes ou televisão.
Os Ames têm uma casa de US$ 540 mil, um automóvel Jaguar e outro Honda e depósitos em banco no valor de US$ 100 mil.
Rosario Ames, que fazia curso de doutorado em filosofia na Universidade de Georgetown, chorou durante sua confissão. Ames aparentou frieza.

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