São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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O medo da estrela

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é a inflação, apesar do consenso de que as taxas sobem até o início da era real. Também não é o juro –que vai continuar subindo. Também não é o Plano FHC, que passou a ser visto apenas como um "plano de passagem" para o novo governo. Nada disso comanda o mercado financeiro. É a política. É a eleição.
Inflação, juros, câmbio viraram protagonistas. Os atores principais são os candidatos à Presidência. Eles roubaram a cena e as preocupações.
Ainda mais agora. Afinal, quem emprestou seu nome ao plano, o ex-ministro, senador e virtual candidato da articulação PSDB/PFL, Fernando Henrique Cardoso, não está, por enquanto ao menos, empolgando.
Para o mercado, não há nada de errado tecnicamente no Plano FHC. A equipe, embora pequena, é confiável. Não fará besteiras. A inflação vai cair, mas e daí? A questão é se ajuda alguma candidatura.
No mercado, que não é do ramo, quem tentava estimar índices de inflação com razoável grau de acerto, agora estima índice de rejeição, votos consolidados.
O mercado, também neste caso, conseguiu proezas. Inventou e calcula o índice ponta-a-ponta das pesquisas eleitorais –o único capaz de fotografar e projetar o desempenho possível das várias candidaturas.
Mas não é por diletantismo. O fato é que já não está claro quem vai polarizar com o candidato petista, se FHC ou o candidato do PMDB –o ex-presidente Sarney ou, mais possivelmente, Orestes Quércia.
Não é diletantismo. Não só o perfil das candidaturas é diferente. A partir destas possibilidades, os operadores montam carteiras e aplicações distintas.
É dinheiro, não apenas o orgulho de ter acertado as projeções, que está em jogo.
O fato é que, nos olhos do mercado, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva não representa somente uma mudança no status político.
Ela põe em xeque ou a perder tudo o que se convencionou chamar de modernização. Não é mera interrupção do, avaliam, caminho ao ajuste e à integração na nova Ordem Mundial. É escapar da trilha. Cair na picada. Voltar atrás e de costas para o capital estrangeiro.
Enfim, para o mercado, Lula representa o caos. Bolsas e lucros abaixo. Não há acordo.
O mercado financeiro não faz só contas. Ele também quer e torce por um "salvador", até para poder pensar, aliviado, o depois das eleições.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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